Palestra discute física do futebol
Apesar de muitos pensarem que são incompatíveis, futebol e ciência jogam no mesmo time. Tal fato ficou evidente durante a palestra ministrada pela Profª. Drª. Emico Okuno, realizada na noite da última terça-feira (17) no auditório Sérgio Mascarenhas, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC).
Mas afinal, o que os gênios da bola têm em comum com os gênios da física? “Tudo”, afirma a professora do Instituto de Física da Universidade de São Paulo que, ao lado de Marcos Duarte, escreveu o livro “Física do Futebol”. Segundo ela, a finalidade de escrever a obra foi de motivar alunos que não gostam de física, mas adoram futebol. “A ideia de escrever um livro paradidático de Física para estudantes do ensino médio com o pano de fundo futebol é algo que surgiu naturalmente entre Marcos e eu, já que ambos tínhamos prática em dar aula na universidade para estudantes de outras áreas”, explica.
Okuno ressalta que a física está presente no futebol em diversos aspectos. Um deles é o tempo de reação dos atletas, fundamental para goleiros durante cobranças de pênaltis, por exemplo. “A marca do pênalti fica a 11 metros da linha do gol. Quando o jogador chuta a bola, ela pode chegar a uma velocidade da ordem de 22m/s, ou seja, em meio segundo, ele já caminhou 11 metros e, portanto, o goleiro já deve apanhar a bola. No entanto, para o goleiro processar os dados visuais que chegam ao olho ele leva 0,1 segundos, para o impulso nervoso fazê-lo agir demora mais 0,1 segundos e para ele saltar para um determinado são 0,7 segundos. Pronto, passou. Então, o acerto médio do goleiro é em torno de 22% apenas”, esclarece a professora.
Outro caso comentado ao longo da palestra e que também está descrito no livro de Okuno foi o chute do Roberto Carlos no amistoso contra a França (em 97). Para a professora o chute é fantástico e mostra claramente os efeitos da interação da bola em movimento com o ar. “O fato da bola girar em torno de si mesma e ao mesmo tempo de deslocar gera uma força do ar sobre a bola e a direção desta força está relacionada com o sentido de rotação da bola (do efeito da bola). Como o Roberto Carlos chutou com a esquerda e a bola girou no sentido anti-horário, ele muda de direção para o lado esquerdo do vídeo. Um efeito incrível, tanto é que no vídeo desse gol um menino que está na arquibancada abaixa no momento do chute, pois acha que a bola vem em sua direção”, relembra.
Coeficiente de restituição para rebote de bolas, angulação do chute, força de arrasto, aclimatação e quantidade de costuras de uma bola foram outros temas mencionados durante a exposição que faz parte do Programa “Ciência às 19h”. Ao finalizar a palestra, Okuno frisou: “o grande gênio de futebol não é o atleta que desafia as leis da física, pelo contrário, é aquele que usa a física em seus mínimos detalhes”.