Pesquisador sugere prisões para quem não cumpre regras de isolamento
Professor fala da necessidade de se ampliar testagem na população para saber real taxa de contaminação pela Covid-19
Cientistas da área de saúde e imunologia alertam sobre a nova linhagem do coronavírus, conhecida como Cepa de Manaus, que se mostra muito agressiva no contágio e na disseminação do vírus. Na Região Central do Estado, testes feitos pelo Instituto de Medicina Tropical, órgão vinculado à USP (Universidade de São Paulo), confirmou que as novas variantes do vírus encontradas em Manaus (AM) e no Reino Unido foram identificadas em 12 pacientes positivados para Covid-19, em Araraquara (SP).
A Prefeitura de Araraquara enviou 53 amostras para análise e em 12 foram encontradas a variante de Manaus. Todos os dias são feitas novas coletas nos pacientes internados em hospitais de Araraquara para identificar o volume de contágio com a nova cepa do vírus.
O Primeira Página conversou com o empresário e pesquisador, professor da USP, Euclides Matheucci Júnior, diretor Científico da DNA Consult, sobre a agressividade do vírus mutante e as consequências de um volume maior de pessoas expostas ao contágio. O pesquisador falou ainda da necessidade de se ampliar a testagem na população para saber a real taxa de contaminação pela Covid-19. Ele foi além: “Acredito que devam ser aplicadas multas e prisões no caso do descumprimento de tais regras [de isolamento social]”.
PRIMEIRA PÁGINA – Na avaliação do senhor, as medidas tomadas pelo Comitê de Combate ao Coronavírus da Prefeitura foram eficazes? Existe alguma medida que precisa ser reavaliada?
EUCLIDES MATHEUCCI JÚNIOR – Creio que os protocolos de segurança devam ser seguidos de maneira séria: o uso de máscaras, higiene das mãos e evitar aglomerações, isso é essencial. Acredito que devam ser aplicadas multas e prisões no caso do descumprimento de tais regras.
PP – A ciência busca identificar se a nova linhagem do coronavírus é mais agressiva na contaminação. O que essa velocidade no contágio poderá afetar o momento já precário que a Região Central do Estado vive?
EUCLIDES MATHEUCCI JÚNIOR – A variante do Amazonas, denominada P1, apresenta 17 mutações em seu genoma, sendo três delas no gene que codifica para a proteína Spike (S). A proteína Spike é a chave que se liga às células humanas causando a infecção. Pelo que foi apurado, tais mutações na proteína Spike aumentam a afinidade da ligação do vírus pelas células humanas, e consequentemente, facilitam o contágio. Por este motivo está havendo um grande aumento no número de pessoas infectadas.
PP – Com o número maior de pessoas contaminadas, a busca pelo acolhimento no sistema de saúde público e privado de saúde será maior. O colapso é iminente? A população ainda não tem dimensão do problema?
EUCLIDES MATHEUCCI JÚNIOR – Certamente vai acontecer em São Carlos o mesmo que em outras cidades, tal como Araraquara, é só uma questão de tempo.
PP – Quais erros foram cometidos no país e consequentemente na cidade no combate ao coronavírus?
EUCLIDES MATHEUCCI JÚNIOR – Foram cometidos vários erros e seria inútil enumerá-los agora. Neste momento temos que olhar para frente, nos precavermos para tentar diminuir o número de contaminados em nossa cidade. É muito importante fazer o teste-diagnóstico correto! Devemos nos precaver fazendo o diagnóstico indicado pela OMS e pela ANVISA, o PCR tempo real com análise simultânea de dois marcadores do genoma do vírus. Alguns laboratórios trabalham com apenas um marcador, o que é perigoso. Para ter uma ideia, um estudo recente estudou 10.022 genomas de Sars-COV-2 de 68 países e encontrou 5.775 mutações diferentes. Além disso, devemos ter consciência de que os testes imunológicos são menos eficientes na detecção do vírus e devem ser feitos dez dias após o aparecimento dos sintomas.
PP – As novas linhagens poderão surgir eliminando a eficácia da vacina existente no mundo? Essas novas linhagens poderão ser mais rápidas que a produção de uma vacina mais eficaz?
EUCLIDES MATHEUCCI JÚNIOR – Existe um grande esforço mundial para certificar a eficiência das vacinas atuais contra as novas variantes, porém, ainda não foram publicados dados seguros a respeito.