Pesquisadores do IFSC formam rede para combate
De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, a cada oito segundos, a doença mata uma pessoa no mundo. No Brasil, a situação não é menos grave. A Sociedade Brasileira de Diabetes chegou ao número de sete milhões de brasileiros infectados pela doença o ano passado, sendo que 90% sofre de diabetes tipo 2, causada, principalmente, pela obesidade e sedentarismo.
Sendo considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma epidemia mundial, profissionais de todas as áreas passaram a preocupar-se com soluções para cura da doença, buscando alternativas não só para o tratamento, mas, sobretudo, para a prevenção desse mal.
O Ministério da Saúde brasileiro, através do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), lançou, no início de 2010, uma chamada a grupos de pesquisa, interessados em estudar diagnóstico, prevenção ou tratamento da diabetes, em nível nacional.
Sendo assim, pesquisadores do Laboratório de Nanomedicina e Nanotoxicologia do grupo de Biofísica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) decidiram utilizar seus conhecimentos para identificação precoce da diabetes, e aprovaram uma “Rede de diabetes” para diminuir as assustadoras estatísticas que se referem à doença. De que maneira? Literalmente, estimando a quantidade de adiponectina produzida no organismo.
Adiponectina é um hormônio proteico, responsável por vários processos metabólicos do corpo, entre eles a regulação da glicemia. Ela é secretada na corrente sanguínea e afeta a sensibilidade à insulina (também um hormônio, responsável pela redução da taxa de glicose no sangue ).
De acordo com Valtencir Zucolotto, docente do IFSC e coordenador da Rede de Diabetes, estudos anteriores já indicavam a relação entre variação dos níveis de adiponectinas com a incidência de resistência à insulina, ou de diabetes tipo 2. “Antes de contrair a diabetes tipo 2, o paciente pode já ter apresentado níveis de adiponectina alterados”, conta Zucolotto.
Esse dado levou os pesquisadores a pensar que os números referentes a essa produção podem estar diretamente ligados à incidência da diabetes tipo 2. Partindo desse princípio, ter conhecimento sobre a quantidade de adiponectina produzida no corpo humano pode ser um método de prevenir a doença.
É quando entra em cena a Rede, coordenada por Zucolotto, que, através de nanotecnologia, em um futuro próximo, passará a produzir sistemas integrados de diagnóstico (chips parecidos com as fitinhas, vendidas em farmácias, que medem a quantidade de insulina no corpo) para monitorar a quantidade de adiponectina produzida no organismo. “O objetivo dessa Rede é produzir, pela primeira vez, um dispositivo que monitore a adiponectina e relacionar essa quantidade com a obesidade e aparecimento de resistência à insulina e diabetes tipo2”, explica o docente.
Pesquisa coletará amostras de pacientes obesos
A pesquisa coletará amostras de grupos de pacientes obesos, hipertensos e normais e medirá a quantidade de adiponectina em cada um deles. O próximo passo é encontrar a possibilidade do uso dos chips, para monitorar o hormônio em questão. “No momento dos testes, verificando-se a variação dos níveis de adiponectina, será possível fazer associações dessa quantidade com a incidência de diabetes tipo 2. Um paciente com níveis baixos do hormônio pode ter tendência em desenvolver a diabetes tipo 2 no futuro. Aí entra a parte de prevenção”, explica.
Zucolotto conta que essa é a primeira vez em que um aparelho é desenvolvido para fazer tal medição. Os testes, que iniciam até o meio do ano, serão feitos diretamenteem humanos. Aparceria é feita com pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP-USP), que coletarão as amostras de pacientes, enviando-as, posteriormente, ao IFSC, para análise.
A Rede de Diabetes, que, em princípio deve vigorar por três anos, acaba de ser aprovada pelo CNPq. “Para fazer a chamada de pacientes, coletar amostras e analisá-las, esse é o tempo mínimo que uma Rede deve valer para trazer resultados mais concretos”, conta Zucolotto.
Podendo prevenir esse grande mal, anos antes de sequer se manifestar, será muito mais fácil diminuir o número de diabéticos no Brasil e no mundo. A torcida é para que tal método não iniba, também, a boa alimentação e prática de exercícios, os principais responsáveis pelo aparecimento da doença.