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População envelhece e crescem as pesquisas

02/10/2012 19h20 - Atualizado há 12 anos Publicado por: Redação
População envelhece e crescem as pesquisas

Nos próximos 43 anos o número de pessoas com mais de 60 anos de idade será três vezes maior do que o atual, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Os idosos representarão um quarto da população mundial projetada, ou seja, cerca de 2 bilhões de indivíduos num total de 9,2 bilhões. Com isso o Brasil, até 2025, será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

Diante desta realidade, a demanda por estudos e pesquisas sobre o fenômeno da longevidade se faz necessária para auxiliar as políticas públicas nas áreas econômica, social, psicológica e, sobretudo, no campo da saúde. Foi com a perspectiva de estudar o processo de envelhecimento em suas mais diversas dimensões que surgiu, em 2009, o curso de Gerontologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o primeiro entre as universidades públicas federais.

O curso de Gerontologia busca congregar três áreas, a biológica, a social e a psicológica e, dentre destas, há cinco grupos de pesquisa. “Estes grupos se voltam para projetos relacionados com doenças que acometam a população idosa, o envelhecimento saudável, o profissional de gerontologia, familiares e os cuidadores e a biologia do envelhecimento”, explica Marisa Silvana Zazzetta de Mendiondo, professora e chefe do Departamento de Gerontologia.

O envelhecimento saudável é o tema do grupo “Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Gerontologia Social” (NIEPGS), coordenado pelo professor Wilson José Alves Pedro. O grupo foca na ampliação da expectativa de vida com autonomia e qualidade, na prevenção de doenças crônicas e degenerativas, nas mudanças no mundo do trabalho e nas políticas sociais, na compreensão e na análise dos novos arranjos sociais e familiares. “A prioridade é o envelhecimento ativo e saudável no contexto brasileiro, buscando saber quem é este idoso em processo de envelhecimento e como ele está envelhecendo”, explica Marisa.

De acordo com a OMS, nos países em desenvolvimento, a expectativa de vida em 2050 será de 82 anos para homens e 86 para mulheres, ou seja, 21 anos a mais do que os 62,1 e 65,2 atuais. A longevidade da população idosa e os novos arranjos familiares trazem novas demandas de investigação. Por isso, é necessário recurso humano para a pesquisa e a prática profissional direcionada à população que envelhece e sua família. É neste universo que se firma outro grupo de pesquisa, “Saúde e Envelhecimento”, coordenado pelas professoras Sofia Cristina Iost Pavarini e Elizabeth Joan Barham. Como comenta Marisa, este grupo segue quatro linhas de pesquisa: Idoso e família, Recursos humanos em Gerontologia, Saberes e práticas em Gerontologia e Tecnologia de cuidados para idosos com alterações cognitivas. “Este é o grupo de pesquisa mais antigo, que inclusive deu origem ao curso de Gerontologia, quando ainda pertencia ao Departamento de Enfermagem”.

Marisa conta que poucos conhecem, mas além do Sistema Único de Saúde, existe em São Carlos, quatro Centros de Referência de Assistência Social chamados de Sistema Único de Assistência Social, equivalente às Unidades Básicas de Saúde, e que funcionam onde eram os Centros Comunitários. São compostos pelo Centro de Referência Especializado (equivalente às Unidades Ambulatoriais Especializadas) que atende disque denúncia, pessoas com deficiência, mulheres vítimas de violência e abuso; e as Instituições de Alta Complexidade (semelhante aos Hospitais), que são os abrigos e as instituições de alta permanência de idosos, para abrigamento. O sistema já tem 10 anos, mas o procedimento ainda está se implementando e se adaptando. Objetivando pesquisar como é este atendimento e como o idoso e sua família estão quando recorrem ao serviço é a proposta de estudo do grupo “Gestão em Envelhecimento – GEnv”, coordenador pelas professoras Marisa e Vânia Aparecida Gurian Varoto. “Este é o foco do projeto que está em andamento chamado Universal. Além deste, o grupo busca estudar a formação profissional do gerontólogo e também outras instituições que atendam a população idosa ou que estejam voltadas ao processo de envelhecimento”, diz Marisa.

A fragilidade da velhice, ou seja, aqueles idosos com dependências em variados graus, pode ser mantida ou agravada, mas também revertida. Embora o idoso seja portador de doença crônica e/ou degenerativa, não precisa ser “fragilizado” se ele tem assistência e intervenção. “O que fazer para minimizar a fragilidade, qual é o tipo de atendimento ou intervenção que podem ser feitos, criar mecanismos de promoção da qualidade de vida, cuidados paliativos e a preparação da família e do idoso para a finitude são temas estudados pelo grupo ‘Gestão da Velhice Fragilizada'”, relata a professora Marisa.

O grupo, coordenado pela professora Vivian Ramos Melhado, ainda aguarda certificação pela instituição. “Enquanto isso, o grupo desenvolve importantes pesquisas sobre a gestão da velhice fragilizada nas suas diferentes modalidades de atenção ao idoso”.

O processo de envelhecimento caracteriza-se por um declínio gradual no funcionamento dos sistemas do corpo humano, mas isso não significa debilidade intelectual e física. A maioria das pessoas retém suas capacidades cognitivas e físicas em um grau notável. Os vários decréscimos relacionados com a velhice não ocorrem de modo linear. Nem todos os sistemas orgânicos deterioram-se na mesma proporção, nem seguem um padrão similar do declínio para todas as pessoas. Cada pessoa está geneticamente dotada de um ou mais sistemas vulneráveis, ou um sistema pode tornar-se vulnerável por causa dos estressantes ambientais ou mau uso intencional, por exemplo, exposição excessiva a raios ultravioleta, tabagismo e álcool. A soma das alterações biológicas, psicológicas e sociais leva ao encurtamento da expectativa de vida. Com foco na Biologia, um outro grupo do Departamento de Gerontologia trabalha a “Biologia do Envelhecimento”, com a coordenação da Márcia Regina Cominetti e composto por 12 docentes e discentes de graduação e pós-graduação. Há duas linhas de pesquisa estudadas: câncer e envelhecimento e Biomarcadores para a Doença de Alzheimer.

O Alzheimer e o câncer são duas doenças muito estudadas devido ao impacto que geram para a família, para a sociedade e, principalmente, para o paciente. O Alzheimer não tem cura e é descoberto quando o paciente já está em um dos três níveis de sintomas da doença e detectado por meio de exames de imagem e por meio de testes cognitivos, que são avaliações neurológicas realizadas por meio de questionários. Como conta a professora Márcia, não existe outro método para detectar a doença antes dos sintomas aparecerem ou quando estão no estágio inicial. “A pesquisa do grupo é encontrar um biomarcador que possa ser preciso e precoce no diagnóstico da doença para que se possa retardar o aparecimento do Alzheimer”, explica.

O biomarcador é uma molécula ou gene que pode ser encontrado no liquor cefalorraquidiano (fluido que envolve o cérebro e a medula espinhal) ou no sangue e que possa indicar se o paciente está com a doença. Como conta Márcia, hoje o paciente só é detectado com Alzheimer quando já está com os sintomas. “Em muitos casos a família só descobre a doença quando os depósitos amiloides cerebrais (acúmulo da substância beta-amiloide, que é tóxica e causa a morte dos neurônios), já estão em estágio avançado, mas os sintomas cognitivos ainda são leves, como perda de memória. A família acredita que a leve perda da memória é uma característica natural e saudável da idade. Vale lembrar que os depósitos amiloides no cérebro podem aparecer de 10 a 20 anos antes que se manifestem os primeiros sintomas da doença”, reforça a docente.

Patrícia Regina Manzine, doutoranda do Programa Interinstitucional de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da UFSCar, que estuda esta linha de pesquisa, avaliou 65 sujeitos, sendo 30 com Alzheimer e 25 saudáveis. Ao invés de avaliar o liquor cefalorraquidiano destas pessoas, como fazem muitas pesquisas, utilizaram amostras de sangue. “Isso porque para utilizar o liquor cefalorraquidiano é necessário equipe e hospital especializado e, além disso, este exame gera muito incômodo para o paciente”, comenta Márcia.

Partindo da amostra de sangue e pareando os indivíduos de acordo com o sexo, idade e tempo de estudo, foi descoberto que indivíduos com características semelhantes e com doença de Alzheimer leve têm um nível menor da proteína ADAM10 no sangue quando comparado com os níveis de pessoas saudáveis. Outros estudos no mundo focam o mesmo aspecto, mas o estudo do grupo da UFSCar é diferenciado, pois se chegou a esta conclusão realizando pareamento dos indivíduos e correlacionando os níveis da proteína ADAM10, com os instrumentos cognitivos.”Estamos em fase inicial de pesquisa, mas o objetivo é que com a descoberta possamos validar um novo biomarcador que seja preciso e que detecte a Doença de Alzheimer em suas fases iniciais”, diz Márcia. A doutoranda ganhou o prêmio de melhor Pesquisa Básica na Reunião de Pesquisadores em Doença de Alzheimer e Desordens Relacionadas, com este estudo. “Agora a Patrícia está com um artigo em fase de avaliação para ser publicado”, relata Márcia.

Outra linha de pesquisa é relacionada com o câncer, também uma doença muito comum no envelhecimento. Nesta linha de pesquisa, o grupo tem parceria com o Departamento de Química, por intermédio dos professores João Batista Fernandes e Paulo Cezar Vieira, do Laboratório de Produtos Naturais. A proposta é descobrir moléculas que possam ser utilizadas como novas drogas antitumorais para um tratamento menos agressivo para o câncer do que a quimioterapia utilizada hoje. Vários pesquisadores verificaram que as pessoas na Ásia têm uma longevidade maior e, buscando descobrir as razões, focou-se, dentre outros aspectos, na dieta, e o gengibre foi um dos itens escolhidos. Márcia explica que os pesquisadores do Departamento de Química, coordenado por João e Paulo, “isolaram a substância Gingerol encontrada no Gengibre, mais particularmente a molécula 10-Gingerol que é mais difícil de ser isolada, e nós a testamos em células tumorais. Pudemos perceber que a molécula inibe a proliferação de células tumorais, matando mais estas células do que as normais. Agora estamos investigando o porquê deste fenômeno”.

A singularidade deste estudo é o uso da molécula 10-Gingerol ao invés de outras mais abundantes no gengibre, como o 6-Gingerol que são mais fáceis de serem isoladas, além do que o efeito daquela se mostrou mais eficiente do que outras”, finaliza Márcia.

Com estas e outras pesquisas que estão em fase inicial, os alunos e professores do curso de Gerontologia pretendem ajudar no caminho importante e necessário para responder ao impacto do envelhecimento populacional. “O grande aumento do número de idosos e da longevidade, a prevalência das condições crônicas e os novos arranjos familiares geram desafios que o gerontólogo irá enfrentar, buscando soluções que associem a excelência do cuidado e a manutenção da qualidade de vida, ao gerenciamento adequado dos recursos humanos e financeiros”, finaliza Marisa.

Mais informações sobre os temas abordados podem ser pesquisados no site do Departamento de Gerontologia da UFSCar, em www.gerontologia.ufscar.br.

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