Santa Casa vai transferir 60 pacientes por falta de anestésicos
Hospital filantrópico deixou de atender novos casos de Covid-19 nesta quinta, 25, por falta de medicação para entubar os pacientes
A falta de medicação anestésica usada para entubar pacientes fez a Santa Casa de São Carlos (SP) parar de receber pacientes diagnosticados com a Covid-19. A instituição afirmou nesta quinta-feira, 25, que pretende transferir, via CROSS (Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde), 60 pacientes que estão internados na cidade, por conta da falta de insumo.
De acordo com o gerente médico da Santa Casa, Roberto Muniz Júnior, não houve a remessa programada de medicações que são necessárias para manter os pacientes entubados como analgésicos intravenosos, sedativos e bloqueadores neuromusculares. “O estoque está acabando e temos o suficiente para os próximos dois dias”.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que procurou o Ministério Público Federal para pedir a intervenção para adquirir os anestésicos após o confisco realizado pelo governo federal que hoje centraliza a distribuição dos medicamentos de todos os fabricantes do país.
Em nota, a Prefeitura afirmou que solicitou a manifestação urgente por parte do Ministério da Saúde relativa ao volume que será repassado para São Carlos e quando serão entregues aos hospitais conveniados do SUS (Sistema Único de Saúde). O município disse ter aberto processo para aquisição dos medicamentos, mas não consegue fornecedor apto a entrega dos insumos.
MINISTÉRIO – Em nota o Ministério da Saúde afirmou estar entregando, desde terça-feira, 23, mais de 2,8 milhões de unidades de medicamentos de entubação orotraqueal (IOT) para todo o Brasil, em parceria com três empresas fabricantes. As entregas foram firmadas após reuniões entre a pasta e representantes dos laboratórios fornecedores dos medicamentos na segunda, 22. A logística híbrida com a integração pública e privada permitirá que os medicamentos estejam nos estabelecimentos de saúde em menos de 72 horas.
A pasta declarou ainda que a empresa Cristália comprometeu-se a fornecer 1.260.000 unidades de medicamentos – as entregas já começaram e devem continuar ao longo dos próximos sete dias. A empresa Eurofarma entregará – a contar desta quinta-feira, 25 – perto de 212 mil ampolas em todo território nacional. A empresa União Química também enviará, até o dia 30 de março, 1.400.000 unidades de medicamentos.
A Santa Casa disse ter notificado o Ministério Público, Estadual e Federal. Conselho Regional de Medicina, Prefeitura e Câmara Municipal na tentativa de obter as medicações necessárias pra a continuidade do atendimento.
CIRURGIA ELETIVA – Em 19 de março, a Santa Casa suspendeu todas as cirurgias eletivas – os casos que podem aguardar o procedimento – por falta de fentanil (anestésico), atracurio (bloqueador neuromuscular) e midazolam (droga para sedação), segundo a instituição.
DESLIGAMENTO EM MASSA – A Santa Casa de São Carlos informou que 27 profissionais de saúde, entre técnicos em enfermagem e enfermeiros, pediram demissão esta semana. “Como a Santa Casa é um hospital filantrópico, depende de verba SUS para se sustentar, eventualmente esses profissionais encontraram outras formas de remuneração em outros hospitais melhor que aquela que a gente pode oferecer”, explicou o gerente médico da Santa Casa, Roberto Muniz Júnior.
Entretanto, segundo o hospital, 10 enfermeiros e 7 técnicos estão passando por processo seletivo e devem ser contratados nos próximos dias.
Contraponto
Hospital Universitário e Unimed contam com estoque de anestésico
De acordo com a direção do Hospital Universitário da UFSCar, o estoque dos anestésicos e sedativos usados para entubar pacientes atende a demanda das próximas três semanas e já estão sendo encaminhados novos pedidos de compra aos fornecedores.
A direção da Unimed São Carlos afirmou que por enquanto o estoque permanece estável, mas há alguns itens com extrema dificuldade na aquisição. “Estamos alterando os protocolos de utilização para otimizar e prolongar o estoque. Corremos o risco de falta de insumos caso o número de casos não diminua”, trouxe a nota à imprensa.
IMPACTO – Para a Federação Brasileira de Hospitais (FBH), a falta iminente de medicamentos necessários para o atendimento aos pacientes graves acometidos pela Covid-19 na rede privada de hospitais deve ser alertada por se tratar de situação atual de emergência em saúde no país.
“O que está em risco é a manutenção da vida humana, direito de todo cidadão brasileiro que não pode ser violado por problemas de gestão na fabricação, aquisição e distribuição de medicamentos”, salientou o presidente da federação, Adelvânio Francisco Morato.
De acordo com o presidente, a pressão sobre os profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate à pandemia, que tem provocado a fadiga, o cansaço, não pode aumentar pela falta de medicamentos para atendimento dos casos mais graves da Covid-19. “Sob pena de comprometer também a saúde destes nossos incansáveis profissionais”, afirmou.
“A FBH soma-se às demais representações dos hospitais privados e solicita ao Ministério da Saúde e demais gestores de saúde que interfiram urgentemente para sanar as dificuldades para a manutenção dos estoques de medicamentos necessários para entubação e tratamento da Covid-19 em níveis normais”.
Em carta aberta, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) reforça o risco iminente de falta de medicamentos para pacientes com Covid-19. “A situação é crítica e, se medidas urgentes não forem tomadas em âmbito nacional, mais pacientes morrerão”.
Em levantamento realizado pela Anahp, junto aos seus associados, no dia 18 de março de 2021, ficou clara a escassez de medicamentos essenciais para o tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19, especialmente os sedativos necessários para entubação.
“Entendemos a preocupação do governo em garantir os insumos necessários para a atenção aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), mas a situação do setor privado também é bastante preocupante e, certamente, atingirá o seu ápice nos próximos dias. Caso essas instituições fiquem sem as medicações necessárias para os procedimentos exigidos em pacientes acometidos pela Covid-19, a alta demanda dos hospitais privados sobrecarregará ainda mais o setor público – agravando a situação do sistema de saúde brasileiro”, trouxe a nota à imprensa da instituição.