São Carlos inicia mapeamento para identificar a prevalência do coronavírus
A visita e a coleta serão realizadas por alunos do curso de Medicina e de outras áreas da saúde da UFSCar e de outras instituições de ensino, integrantes ou não da ação “Brasil Conta Comigo” e profissionais voluntários da área da saúde do HU-UFSCar e Santa Casa
Desde a última quinta-feira (11), São Carlos iniciou o maior levantamento de identificação da prevalência do novo coronavírus (COVID-19) feito em um município em testagens por número de habitantes. “Testar para cuidar – Programa de Mapeamento da COVID-19” irá entrevistar e testar 5.600 pessoas na cidade, em 4 etapas de trabalho. O programa será realizado pela Santa Casa, Prefeitura de São Carlos, Statsol, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Hospital Universitário (HU-UFSCar) e Unimed São Carlos.
“Estudos feitos por cientistas em todo o mundo mostram que, em média, 80% da população infectada não apresentam sintomas ou têm sintomas leves. O nosso objetivo é conseguir estimar de forma mais precisa quantas pessoas foram infectadas pela doença em São Carlos e onde esses casos estão concentrados”, explica uma das coordenadoras da pesquisa, Carolina Toniolo Zenatti, que é também infectologista e coordenadora do Serviço de Controle de Infecção Relacionada à Assistência em Saúde (SCIRAS) da Santa Casa.
“Os números vão nos ajudar a entender melhor como o vírus se espalha e assim, pensar em estratégias mais pontuais para conter a disseminação”, completa.
Comitê de Ética da Santa Casa
Para que o Programa de Mapeamento saísse do papel, o projeto de pesquisa foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa (CEP), que é ligado ao Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério da Saúde (MS). A Santa Casa de São Carlos é o único hospital filantrópico da Região Centro Paulista que tem um Comitê como esse, criado em 2017, para consolidar a Instituição como um Hospital de Ensino.
“O Testar para Cuidar é um projeto muito bem estruturado, que reúne as principais instituições de saúde de São Carlos. Fazer parte desse projeto é fundamental para o hospital, que é hoje, junto com o HU-UFSCar, é referência para as internações de suspeitos e confirmados. O Mapeamento COVID-19 vai nos ajudar a identificar, de fato, quantas pessoas foram infectadas e podem estar transmitindo a doença. Outro ponto importante, é que o mapeamento fortalece a vocação da Santa Casa como Hospital de Ensino e Pesquisa”, afirma o provedor da Santa Casa, Antonio Valério Morillas Júnior.
Estudos Covid-19 pelo Brasil
Esse será o maior levantamento da doença realizado em um município brasileiro em número de pessoas entrevistadas e testadas por habitante. A pesquisa EPICOVID19-BR, por exemplo, coordenada pela Universidade Federal de Pelotas com financiamento do Ministério da Saúde, considerado o maior estudo populacional do mundo a estimar a prevalência de coronavírus e avaliar a velocidade de disseminação do contágio pela doença, ouviu e testou (por meio de testes rápidos), 33.250 pessoas em 133 cidades, uma média de 250 moradores por município.
Em São Carlos, serão ouvidas e testadas 5.600 pessoas. O diagnóstico será feito por meio dos exames sorológicos do tipo Elisa, fornecidos pela Prefeitura, que são considerados mais precisos que os testes rápidos aplicados nos demais mapeamentos feitos pelo país. Os exames serão realizados no Laboratório de Morfologia e Patologia (DMP) da UFSCar.
Método de pesquisa: amostragem aleatória estratificada
São Carlos tem hoje uma população estimada de quase 252 mil habitantes (251.983). Neste estudo, 5.600 pessoas, divididas em 4 etapas de 1.400 cada, deverão ser entrevistadas e passar pela coleta de exame de sangue. A pesquisa será realizada por meio do REDCap, um software livre, que substitui os formulários de papel e anotações manuscritas na coleta de dados. Com a ferramenta, o levantamento fica mais preciso, seguro e rápido.
A cidade foi dividida em 19 regiões, de acordo com as características socioeconômicas. Esse método, de Amostragem Aleatória Estratificada, é o principal modelo usado por grandes Institutos de Pesquisa ao redor do mundo, inclusive o IBGE. “Em cada uma dessas regiões, foram selecionadas, por sorteio, ruas, quarteirões e, depois casas. Tudo para que o morador selecionado, fosse escolhido de forma aleatória, livre de qualquer interferência e/ou interesse”, explica o pesquisador e estatístico Jorge Oishi, um dos coordenadores do Programa.
Com essa dimensão de amostragem, vai ser possível entender a prevalência da COVID-19 em todo o município de São Carlos. O levantamento irá apontar quantos por cento da população deve ter sido contaminada pelo Coronavírus, em que regiões os casos se concentram e com que velocidade a doença vem se propagando.
No questionário serão feitas perguntas, como profissão, escolaridade, se tem alguma doença crônica, se teve sintomas de doenças respiratórias, se ficou em isolamento nos últimos 15 dias, entre outras. O morador entrevistado terá que disponibilizar telefone de contato e endereço de e-mail. Todos os dados serão mantidos em sigilo.
A visita e a coleta serão realizadas por alunos do curso de Medicina e de outras áreas da saúde da UFSCar e de outras instituições de ensino, integrantes ou não da ação “Brasil Conta Comigo” e profissionais voluntários da área da saúde do HU-UFSCar e Santa Casa. Equipes de profissionais da UNIMED São Carlos participarão da coleta.
Vale ressaltar que, para esse trabalho, todos os profissionais participantes vão usar os equipamentos de proteção individual necessários. O levantamento conta também com o apoio do Grupo São Francisco, Laboratório Ivo Ricci, do Dr. Tips e do Clara Resorts.