Suspeito de venda de túmulo presta depoimento na Polícia Civil

O empreiteiro apontado nas investigações da Polícia Civil como um dos que participaram do comércio ilegal dos túmulos 385/386 do Cemitério Nossa Senhora do Carmo afirmou ontem, em depoimento à polícia, que não tinha conhecimento da existência de restos mortais no túmulo comercializado.
O delegado Maurício Antônio Dotta, responsável pela investigação, disse: “Ele afirmou que, de fato, trabalhou nesse túmulo e que cobrou R$ 2 mil pelo serviço, tendo reconhecido o recibo apresentado pela família que comprou a sepultura. Mas ele se exime da responsabilidade sobre os restos mortais; ele afirmou que captava a obra, o serviço, e depois saía para fazer compras, e que o pessoal dele (pedreiros) é que ficava ali. Obviamente é um meio de defesa. Ele negou que tivesse, ele mesmo, mexido nos restos mortais. Acho muito difícil ele não ter sabido dessa situação, porque as pessoas que trabalharam para ele sabiam; tanto sabiam que tiraram os restos mortais de lá e um deles nos ajudou, indicando o lugar onde foram enterrados”, explica o delegado.
Segundo Dotta, o suspeito afirma ter recebido ordens do então (2007) administrador do cemitério: “Ele alega que só fez o túmulo porque tinha autorização que vinha do administrador”, afirma o delegado.
O ex-administrador, no entanto, não apareceu para prestar depoimento, embora tenha sido intimado. Dotta diz que outra intimação foi enviada para o ex-administrador, que deve ser ouvido hoje: “Vamos inquirir sobre sua responsabilidade”, afirmou o delegado, para quem as investigações já se aproximam do fim.
Questionado sobre a possibilidade de pedido de prisão, ele diz: “Não deixo de vislumbrar a possibilidade, mas para pedir algo dessa natureza é preciso estar de acordo com o que prescreve a lei. Em especial o artigo 312 do Código de Processo Penal. Se tivermos elementos, a gente pode pedir, sim”.
O empreiteiro e o administrador, segundo o delegado, serão indiciados por violação de sepultura e desrespeito com relação aos mortos.
ENTENDA O CASO – O caso de dona Solange começou quando, em visita ao túmulo dos filhos, percebeu que no local outro túmulo estava alocado. No processo de descobrir o que estava acontecendo, ela foi informada por um pedreiro que os restos mortais que ali estavam, haviam sido transferidos para outro local em 2007. Com a indicação do local pelo funcionário, os restos mortais procurados por dona Solange foram então encontrados.
Com o fato, dona Solange fez um boletim de ocorrência e o caso mostrou-se, com o tempo, de caráter reincidente, já que em 2005 um esquema de vendas ilegais de túmulos foi denunciado e um processo criminal desde então vem sendo feito.