“Temos a nossa cracolândia em São Carlos”, diz defensor público
“O sistema de São Carlos para lidar com esse problema é bastante precário”, diz o defensor público Danilo Mendes Silva de Oliveira, que ainda afirma: “Nós temos a nossa cracolândia. Quem fala que a gente não tem, não sabe o que está dizendo. Vai na ‘favelinha da Fepasa’. Lá é a nossa cracolância. Então esse assunto mereceria uma atenção especial. É um problema que existe e que não está sendo enfrentado”.
Segundo Oliveira, a Defensoria Pública do Estado tem centenas de ações judiciais para internação, tanto voluntária quanto involuntária, de dependentes químicos: “A defensoria tem entrado com ações judiciais e quem está pagando essa conta? A prefeitura. O município deveria ter uma clínica, um estabelecimento para pode tratar esses pacientes. Na medida em que o município deveria ter esse estabelecimento e não tem o Judiciário faz com que o município pague o serviço que ele deveria disponibilizar. Temos centenas de ação judiciais e centenas de pessoas internadas nessa situação”.
A Portaria nº 336/GM de fevereiro de 2002, do Ministério da Saúde, preconiza que municípios com população acima de 200 mil habitantes devem ter um CAPS III: “E nós não o temos”, diz Oliveira: “Temos o CAPS-AD, que é uma estrutura para um município de 80 mil, 100 mil habitantes. Estamos tentando andar com um carro com duas rodas. O número de internação é alto, pois não temos esse equipamento que faz o tratamento da pessoa. A gente recebe a pessoa quando ela está no estado mais avançado do grau da dependência química. Como não temos uma rede de tratamento de dependente químico, quando ele chega, já passou da fase do uso, ele já passou da fase do uso social, ele já passou da fase do uso abusivo, ele já está na dependência química”, explica o defensor.
Em dezembro, o secretário de Saúde então nomeado pelo prefeito Paulo Altomani, Edílson Abrantes, participou, juntamente com outros secretários nomeados, de uma reunião com os defensores públicos: “O tom da conversa que tivemos foi álcool, drogas e pacientes psiquiátricos. A conversa nos deixou muito preocupado enquanto secretários. Eles nos colocaram as demandas que têm em processo em relação a isso, o que nos aguardava, o que eles gostariam que fosse pedido”, disse Abrantes.
Segundo Abrantes, um dos temas foi a instalação do CAPS III: “O prefeito quer fazer tudo que se pode dentro da cidade, algum tipo de clínica, alguma coisa do gênero”, diz.
Depoimento
A reportagem do Primeira Página entrevistou uma dependente de crack que está vivendo há três meses debaixo de uma das passarelas da rodovia Washington Luís. Segundo a dependente, que tem 32 anos e não quis de identificar, ela se internou em uma clínica em outra cidade, mas fugiu: “Era pra ficar internada 6 meses, mas fiquei só 3 e fugi”, afirmou. Questionada sobre quantas pedras consome por dia, ela divagou: “Ah, fumo 2, 5, 15”, e para conseguir comprá-las afirma que se prostitui. A dependente afirma ter 3 filhos (de 11, 6 e 4 anos): “O crack é ciumento: quer você só pra ele. A gente esquece da família, amigos, filhos…”.