Variante P1 é detectada em reinfecção em Araraquara
São Carlos registrou nova cepa de Manaus; segundo análise do Instituto de Medicina Tropical, oito amostras de dez detectaram mutação
Pesquisadores da USP comprovaram o primeiro caso de reinfecção causada pela variante brasileira do coronavírus, a P1, no município de Araraquara (SP). A paciente é a analista de crédito Sueli Oliveira, de 26 anos, que contraiu o coronavírus pela primeira vez em setembro de 2020 e voltou a ter diagnóstico positivo no início de fevereiro deste ano. Nas duas infecções, a jovem teve sintomas leves, sem necessidade de internação.
Segundo Camila Romano, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Hospital das Clinicas e do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP e uma das responsáveis pelo estudo, a diferença entre as duas infecções foi de 128 dias.
O Comitê Emergencial de Combate ao Coronavírus da Prefeitura de São Carlos (SP) enviou 10 amostras ao IMT da USP e oito delas foram identificadas com a variante P1, sendo seis homens e duas mulheres com idades que variam de 34 a 61 anos. Seis pessoas deste grupo foram a óbito com idade entre 51 e 62 anos. O comitê está estudando a possibilidade do envio de novas amostras para sequenciamento a UNESP.
MAIS VARIANTES – Membros do Centro de Contingência da Covid, do governo de São Paulo, afirmaram durante coletiva na quarta-feira, 31, que a nova variante do coronavírus identificada em uma paciente de Sorocaba ainda não representa um perigo alarmante. Na avaliação apresentada, a mutação identificada seria similar àquela registrada na África do Sul, mas informações preliminares apontam para a possibilidade de que ela seja uma evolução natural da variante brasileira P.1.
“Precisamos determinar qual a real incidência desta nova variante, porque até o momento é um caso no universo de pandemia da P.1. Se for só um [caso], são as medidas que estão em andamento. Fora isso, é o acompanhamento genômico e sequenciamento para acompanhar o surgimento dessas novas variantes, o que é esperado para esse momento”, afirmou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.
Ainda na semana passada, pesquisadores da Fiocruz alertaram para a circulação de novas mutações da covid-19 no País, mas em uma quantidade pequena das amostras, o que não configuraria ainda o surgimento de novas variantes. “Vale ressaltar que as novas mutações foram, até o momento, detectadas em baixa frequência, apesar de encontradas em diferentes Estados”, afirmou a virologista Paola Cristina Resende.
INEDITISMO – Este é o primeiro estudo de reinfecção pela variante P1 identificada em Araraquara, que realizou 10 dias lockdown em fevereiro passado, com suspensão da circulação de pessoas — os moradores só puderam sair para trabalhar em atividades essenciais, para atendimento médico ou compra de remédios. Com as restrições, o número de casos na cidade diminuiu pela metade. Hoje, 93% das infecções pelo coronavírus são causadas pela P1, segundo a Secretaria de Saúde do município.
A identificação de reinfecções por variante é complexa, pois depende da realização de sequenciamento genético das amostras colhidas nos testes RT-PCR. No caso de Sueli, o sequenciamento foi feito com base no material coletado na segunda infecção.
Em entrevista ao jornal O Globo, a pesquisadora afirmou que na prática clínica é observado aumento nos casos de reinfecção, mas não pode ser associado apenas à presença da variante P1. “Se tivéssemos apenas a linhagem antiga, poderíamos também ter reinfecção”.