Crises de idade: é possível lidar com elas?
É bastante comum ver uma criança querendo ser adolescente e quando adolescente querendo ser adulta. Já na vida adulta querem voltar alguns anos e ser criança novamente. Muitas pessoas quando chegam aos 20, 30, 40 e 50 anos de idade sofrem certa melancolia pela passagem do tempo. São as famosas crises de idade, que trazem questionamentos e reflexões sobre si mesmo.
A especialista em psicologia comportamental da clínica multiprofissional LifeClin, Larissa Locachevic da Silva, ajuda a entender melhor esse tipo de neura e dá algumas dicas.
“O que nos atrai para novos caminhos é sempre a novidade. Ser jovem implica em não conhecer como é ser adulto, sendo assim os jovens desejam ser adultos para saber como é. Já os adultos, que um dia foi jovem, ao ficarem mais velhos querem voltar. Isso acontece porque o novo é sempre mais interessante, mas quando já o conhecemos, ele perde esse status. É o mesmo que acontece com mulheres que têm cabelo liso e querem enrolar e quando enrolam querem alisar. É o novo, o desconhecido e, quando passa a ser conhecido, faz parte da rotina e ‘perde a graça’. É um processo natural”.
Segunda Larissa, as crises de idade são apenas rótulos criados pela mídia e pela sociedade para caracterizar fases da vida pelas quais todos passam por turbulências e grandes mudanças. Superar uma crise de idade envolve amadurecimento e autoconhecimento.
“Passar por uma crise de idade significa refletir uma fase vivida e pensar sobre como será a nova etapa. Todos nós fazemos isso em algum momento de nossa vida por medo do novo e ao mesmo tempo curiosidade em saber o que está por vir. Esses sentimentos são normais, afinal a toda hora temos dúvida sobre o que fazer, por onde seguir. A sociedade impõe muitas cobranças para os indivíduos, então essa preocupação é natural, porém devemos sempre estar atentos para que isso não seja uma fonte de sofrimento”, diz Larissa.
Para a psicóloga, encarar uma crise de idade como um momento que envolve novas oportunidades para a vida, novos momentos, novas vivências, faz a pessoa ver o problema de forma mais leve, já que todos passam ou passarão por crises. “São elas que nos fazem refletir, reavaliar nossas escolhas e caminhos para traçar novas metas em diferentes etapas da vida”.
Mas será que esses momentos de crises de idade são os mesmos para homens e mulheres? Para a especialista, não. Ela diz que a diferença está nos diferentes papéis que ambos assumem na sociedade. “Homens e mulheres têm expectativas diferentes em relação ao futuro. Problemas hormonais, a separação dos filhos que crescem e aposentadoria são fatores que influenciam e agravam essas crises diferentemente em homens e mulheres. Os dilemas de cada um variam de acordo com a história de vida de cada pessoa, vivências e expectativas”.
Crise de idade
Duas pessoas de idades diferentes dão seus depoimentos
A fisioterapeuta Renata Lopes de 36 anos e a estudante Ana Júlia Novatto de 24 anos contam que muitas vezes refletem sobre quem são o que querem e se até agora chegaram aonde gostariam de estar. Ambas acreditam que mesmo ainda sendo jovem, a crise de idade é inevitável.
“Passei por uma crise de idade quando completei 29 anos, já estava sofrendo por antecipação por causa dos 30 que já se aproximava. Cheguei aos 30 anos, casada e com filhos como sempre quis. Mas mesmo assim me deu uma neura de pensar que eu já não era mais tão jovenzinha como antes e que logo os sinais da idade iam chegar. Acho que no meu caso a questão foi vaidade feminina. Agora que estou perto dos 40 penso nas coisas que aprendi e realizei até agora. Já estou me conformando que envelhecer não é uma opção. Ainda tenho projetos para o futuro”, conta Renata.
“Percebi que hoje que tenho responsabilidades reais, o tempo para fazer coisas e estar com os amigos não é mais o mesmo, me dei conta que cada vez é mais difícil vê-los e organizar horários. Também fico imaginando que para conquistar meu lugar ao sol, preciso arrumar um emprego, começar de baixo e quem sabe posteriormente me posicionar melhor. Tudo isso assusta um pouco. Porém hoje me entendo melhor sobre o que quero e o que não quero. Tenho opiniões mais formadas”, diz Ana Júlia.