Marina Íris junta time de notáveis no disco ‘Voz bandeira’
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Marina Íris cantou em março de 2019 na Câmara dos Deputados,
em Brasília, o samba-enredo da Mangueira “História para ninar gente grande”,
durante uma sessão solene em homenagem a Marielle Franco. Logo após sua
performance, o carnavalesco da escola campeã do carnaval deste ano, Leandro
Vieira, publicou um texto emocionado: “O certo é que nada, nem ninguém, falta
na ‘voz bandeira’ de Marina Íris. Em sua dicção está o Brasil”, diz um trecho.
Foi ali, no meio daquela declaração, que surgiu a ideia que inspirou seu
terceiro álbum solo, “Voz bandeira”, disponível nas plataformas digitais.
— No geral, as pessoas elogiam as vozes dos intérpretes referindo-se ao timbre,
à interpretação, à emoção, à potência… — conta Marina, famosa em rodas de
samba cariocas por seu vozeirão — O Leandro fez essa descrição sobre como minha
voz carrega outras vozes, como carrega um Brasil, assim como canta o samba da
Mangueira.
“Voz bandeira” traz na ginga dos tambores a base para a cantora soltar a letra
sobre questões como racismo, feminismo, ocupação do espaço público, liberdade,
dança, a força da palavra e do som. Para tecer essa manhã de samba e luta,
Marina trança música e poesia, convidando grandes artistas negras
contemporâneas para a roda, em duetos musicais e faixas com declamações de
textos.
Assim, o grito de Marina no disco é apanhado por Elisa Lucinda, que o lança
para Ana Maria Gonçalves, e daí para Fabiana Cozza, Leci Brandão, Conceição
Evaristo e Marcelle Motta — vozes que vão tecendo essa alvorada de coro
feminino.
— É um encontro geracional de mulheres que ocupam diferentes territórios — diz
Marina, sobre o álbum, que é parte do projeto “Joia ao vivo”, da gravadora Joia
Moderna. — E a roda de samba é justamente essa costura de vozes, do encontro,
da ancestralidade.
Já na abertura do disco, o samba sincopado “Voz bandeira” (parceria da cantora
com Raul DiCaprio) traz versos como “Canto para libertar corpo, alma, prazer”
que sintetizam essa valentia forjada pela potência da música. É essa postura
afirmativa que também se ouve em canções como “Para matar preconceito” (Raul
DiCaprio e Manu da Cuíca), hit cantado na palma da mão em dez de dez rodas de
samba do Rio de Janeiro (“Sou Zezé sou Leci / Mercedes Baptista, Ednanci”).
Assim como em “Rueira”, seu último disco, o novo trabalho de Marina aposta numa
sonoridade bem urbana, com a direção musical assinada por Ana Costa. O trabalho
incorpora elementos do soul para dentro do tradicional ponto firmado do samba
com cavacos, violões, pandeiros e tambores.
Em “Velha senhora” (de Teresa Cristina e Leandro Fregonesi), por exemplo,
atabaques e teclado se misturam para evocar a orixá Nanã. Já em “Mana que
emana” (Thiago da Serrinha e Bruno Barreto) é o toque da guitarra africana que
tempera o caldeirão sonoro fervido por Marina.