Contribuinte paga mais de R$ 360 milhões em impostos
O Impostômetro e o Feirão do Imposto, que chegaram a bordo de um caminhão em São Carlos na manhã de ontem, vieram para mostrar concretamente o volume da carga tributária que o cidadão paga ao comprar um produto no comércio.
O contribuinte de São Carlos até ontem já havia pago, segundo o Impostômetro, R$ 360 milhões só em 2012. A arrecadação é assim distribuída: 70% fica com o governo federal, 26% com o governo estadual e 4% com a Prefeitura. ”Nós estamos chegando neste ano a R$ 1 trilhão de impostos, muito tempo antes do que o ano passado. Isto mostra que o País não está tendo um crescimento econômico, mas tem um crescimento tributário”, afirmou o presidente da Associação Comercial e Industrial de São Carlos (Acisc), Alfredo Maffei Neto
Pela primeira vez na cidade, o Impostômetro acabou motivando com que as pessoas atentas aos números se indignassem com as taxas tributárias que todos que vivem em comunidade são obrigados a pagar.
Para o mecânico de refrigeração Paulo Vieira, 28 anos, causa “vergonha” em ver o que o governo arrecada e o que ele aplica em contrapartida na melhoria de vida do cidadão. “Não vemos melhoria na saúde, educação e segurança e, no entanto, os impostos estão aí, só enchendo os cofres do governo. É esse dinheiro que nutre a corrupção como a que a gente viu no mensalão”, disse.
O assistente administrativo Jean França de Castro nunca havia visto o Impostômetro e disse ter ficado impressionado com a quantidade de dinheiro que vai para o governo com a arrecadação de impostos. “Não imaginava que o valor de um desodorante, um sabonete ou um pacote de algodão tinha quase a metade em impostos para o governo. A gente fica sem ação. Não tem como se rebelar e não pagar. O imposto está embutido no valor do produto”, afirmou.
De acordo com Maffei Neto, a iniciativa veio para movimentar a cidade e trazer a conscientização da população. “Queremos que as pessoas sejam conscientes de que pagamos impostos para termos hospitais, transporte, segurança e boas escolas. Acredito que essa ação vai abrir os olhos das pessoas. Além de mostrar que pagamos muitos impostos, queremos que todos exijam a contrapartida em serviços públicos de qualidade”, finalizou Neto.
Na avaliação do economista-chefe e superintendente institucional da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), entidade que lançou o Impostômetro, em 2005, Marcel Solimeo, o projeto visa alertar ao cidadão para que ele compreenda que o governo taxa com impostos tudo que ele consome. “O cidadão que está na faixa que não declara o Imposto de Renda muitas vezes acredita que não paga imposto. Na verdade todo o consumo dele é tributado”, explicou Solimeo.
O economista ressalta a importância da conscientização do cidadão na fiscalização do dinheiro público que é gasto pelos governos, fruto dos impostos cobrados de todos os cidadãos. “Muitos desses tributos estão embutidos nos preços dos produtos e serviços como telefonia, energia e água, como também no pão que se compra para o café da manhã”, declarou.
O Impostômetro ficou a partir do meio dia estacionado na Praça Maria Aparecida Resitano (em frente ao Mercado Municipal). Nele a população pôde visitar o Feirão do Imposto em seu interior, onde se encontram expostos vários produtos com a indicação dos impostos embutidos em seus preços.
Diretor do Sescon explica carga tributária
O diretor regional do Sindicato das Empresas de Contabilidade do Estado de São Paulo (Sescon), Edgard Andreazi Moreira, explica que dentro da economia doméstica, que é a grande realidade da população, interpreta-se que imposto é apenas aquilo que recolhemos através de guias próprias que têm a nomenclatura própria de impostos ou taxas.
“A importância de ferramentas como o Impostômetro é fundamental para elucidação que não apenas pagamos impostos quando expressos em um guia de recolhimento, mas que eles estão embutidos em tudo que consumimos, sejam produtos ou serviços”, disse.
Ele disse que é importante que o entendimento fique claro a todos que uma carga tributária equivalente a 40% do PIB representa que quase a metade de toda movimentação econômica é destinada à manutenção da administração do serviço público.
Não estando evidente na etiqueta de preços, a primeira impressão é que tal produto ou serviço é caro, quando na realidade ele está servindo de agente arrecadador, carregado de siglas e taxas percentuais que representam o absurdo da carga tributária nacional.
“O que fica ainda bem pior, considerando que os serviços públicos são ineficientes e obrigam a maioria da população a pagar novamente por estes serviços que já estão sendo cobrados, como escola, educação e saúde”, concluiu.