Dólar fecha a R$ 1,884, maior cotação do ano
O dólar fechou na última quarta-feira, 25 de abril, na linha de R$ 1,884, até então, a maior cotação do ano Esta semana o mercado de câmbio local seguiu assimétrico. Ou seja, o viés de alta permanece maior do que o de baixa justamente em função das atuações do BC e da postura do governo, que a cada oportunidade reforça a ideia de que pode tomar novas medidas no câmbio.
Diante deste quadro, empresas de eletrodomésticos, como a Latina, e de vários outros setores, apesar da cautela, vislumbram a possibilidade de recuperar rentabilidade ou repassar a vantagem no preço.
O presidente da Latina Eletrodomésticos,Valdemir Dantas, ressalta que este novo patamar do dólar, se mantido, poderá alterar o preço de exportação. Segundo ele, o mais provável é que este novo câmbio possa causar a recomposição da margem de lucro e também na redução do preço das vendas ao exterior. O objetivo, de acordo com Dantas, é ampliar a competitividade dos produtos no mercado externo. A empresa exporta lavadoras de roupas para Paraguai, Chile e Bolívia.
Dantas afirma que o principal cliente externo é o Paraguai. “Lá concorríamos com as lavadoras da Argentina e com outros fabricantes brasileiros. Deste setembro, porém, começaram a chegar lá as lavadoras chinesas”, ressalta ele.
O empresário enfatiza a ferocidade do mercado global, onde repassar US$ 0,01 ao preço de qualquer produto é uma “odisséia”. “E se você perder o mercado você não recupera mais. Não se pode deixar de fornecer, o contrato tem que ser cumprido, mesmo com prejuízo”.
A Latina exporta entre 3% e 5% da sua produção. Segundo Dantas, o dólar idela giraria em torno de R$ 2. “Mas muito pior que o dólar baixo é a variação da moeda. Se o câmbio varia muito cria um clima de instabilidade e uma área de risco complicada”. Segundo ele, em maio a empresa lançará quatro novos produtos.
A empresa tem três unidades, sendo uma montadora na Avenida Getúlio Vargas e o centro de logística no CEAT (Centro de Alta Tecnologia), ambas em São Carlos e a montadora de Jaboatão dos Guararapes, na Grande Recife (PE). A companhia completou 17 anos, mantém 270 empregos, está presente em 9.000 pontos de venda em todo o Brasil ou 92% do comércio varejista e faturou R$ 158 milhões em 2011.
Reação – Chamado várias vezes de “cavaleiro do apocalipse” por ser crítico quanto à postura do governo diante da economia, o diretor regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Ubiraci Moreno Pires Corrêa, é hoje um entusiasta de várias medidas tomadas pelo governo federal, comandado pela presidente Dilma Rousseff.
Com relação ao novo patamar de valor do dólar, Ubiraci afirma que é um contexto que, somado à aprovação da Resolução 72 que põe fim à guerra dos portos, a queda dos juros bancários e outros incentivos do Plano Brasil Maior que desoneram a folha de pagamento, formam um pacote de mudanças que pode salvar o setor industrial brasileiro. “Vejo que o governo acordou para salvar a indústria. E hoje as perspectivas são outras. A subida do dólar pode ajudar tanto na recuperação do mercado externo quanto no aumento da competitividade no mercado interno com aumento dos preços dos produtos importados. Desta forma poderemos iniciar um novo momento para o setor fabril brasileiro”.
Uma das maiores exportadoras de São Carlos, a Tecumseh do Brasil Ltda. viveu seu auge no período em que o dólar oscilou entre R$ 1,99 e R$ 3,99 entre 1999 e 2005. A multinacional, produtora de compressores para refrigeração, chegou a ter 7.400 empregados.
A queda do dólar, a alta dos preços das commodities, como aço, cobre e fundidos, somado à política cambial do governo Lula, causou uma redução de 4.000 postos de trabalho na empresa, que hoje emprega cerca de 3.400 pessoas. A reportagem fez contato com a empresa sobre o novo patamar do dólar, mas até o fechamento desta edição ninguém se manifestou.