Dólar sobe 1,9%, maior alta em 1 ano e meio
O dólar subiu quase 2 por cento frente ao real nesta quarta-feira, 29, maior salto em quase um ano e meio e fechando acima do patamar de 2,11 reais pela primeira vez desde o início de dezembro, após o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dizer que o câmbio não será usado como ferramenta para combater a inflação.
O movimento do câmbio representava mais um desafio para o Banco Central, que precisa definir o tamanho da alta da taxa básica de juros esta noite em meio a persistentes pressões inflacionárias.
A divisa norte-americana ganhou 1,90 por cento, cotada a 2,1136 reais na venda. Trata-se da maior alta de fechamento desde o dia 12 de dezembro de 2011, quando o dólar subiu 2,14 por cento.
Na máxima desta sessão, o dólar chegou a registrar alta de mais de 2 por cento ante à divisa brasileira, a 2,1161 reais na venda. No mês, até o fechamento desta quarta-feira, a moeda norte-americana acumula ganho de 5,60 por cento.
Mantega defendeu nesta quarta-feira que a valorização do dólar é um movimento internacional em resposta às especulações de que o Federal Reserve, banco central norte-americano, reduza seu programa de estímulo monetário.
“A maioria das moedas está se desvalorizando. Não é preocupação para o governo. Havendo a desvalorização do real, ficamos mais competitivos”, afirmou ele.
As declarações de Mantega reduziram um pouco a expectativa de que o BC intervenha no mercado para conter a alta da moeda norte-americana, movimento que geralmente se traduz em repasses aos preços.
“É como se o Mantega tivesse falado: ‘vamos deixar o dólar subir’. Então o problema é o seguinte: se o BC não entrar e não demonstrar nada, aí continua essa alta”, afirmou o operador de câmbio da B&T Corretora Marcos Trabbold.
Segundo ele, investidores também aproveitavam para puxar para cima as cotações da divisa norte-americana, de olho na formação da Ptax de maio, na sexta-feira.
“Como a Ptax vai fechar logo depois do feriado (de Corpus Christi, na quinta-feira), a briga acaba sendo hoje”, afirmou Trabbold.
No entanto, diante da expectativa de que o BC pode elevar a Selic de forma mais branda esta noite, o mercado especulava se a autoridade monetária intervirá para impedir que o dólar continue a subir, evitando pressões inflacionárias adicionais.
“O cenário é ruim lá fora, a apreciação da moeda norte-americana é generalizada e aqui se tem muita lição de casa para fazer”, afirmou o gerente de câmbio da Icap, Ítalo dos Santos. “Não dá para falar de patamar, mas em algum momento o BC tem que entrar”, emendou.
Os investidores viram as cotações ultrapassarem níveis psicológicos de 2,03, 2,05 e 2,07 reais e agora aguardam a reação do BC após a divisa superar o nível de 2,10 reais –nível que foi fortemente defendido pela autoridade monetária no ano passado.
O dólar tem registrado altas diante da expectativa, na cena externa, de que o Fed reduzirá seu programa de estímulo, diminuindo a liquidez no mercado de câmbio internacional.
DECEPÇÃO COM PIB
Na cena doméstica, pesa sobre o sentimento do investidor a deterioração das contas externas, a inflação elevada e o fraco crescimento do país.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu apenas 0,6 por cento no primeiro trimestre do ano em relação ao trimestre anterior, abaixo das expectativas do mercado de expansão de 0,9 por cento no período.
Com o fraco resultado, a curva de juros futuros passou a precificar alta mais branda na Selic esta noite, de apenas 0,25 ponto percentual – o que levaria a taxa básica de juros para 7,75 por cento ao ano.
Apesar do grande diferencial de juros do Brasil – cujo BC promove um ciclo de aperto monetário enquanto o resto do mundo corta taxas de juros para incentivar o crescimento -, a mudança nas apostas para a Selic contribuía para a alta do dólar. (reportagem adicional de Tiago Pariz e Natália Cacioli)