Governo dobra emissão em real por liquidez
O governo decidiu realizar uma emissão maior do que a prevista inicialmente para garantir liquidez aos bônus soberanos denominados em real, buscando combater a valorização do real e melhorar o financiamento de longo prazo de empresas nacionais, disse à Reuters uma fonte da equipe econômica.
O governo captou 3,15 bilhões de reais nos mercados norte-americano, europeu e asiático, com um rendimento de 8,6% ao ano, o menor da história para títulos denominadosem real. Opapel utilizado foi o bônus Global BRL com vencimento em 2024.
“Tínhamos anunciado que iríamos aumentar a nossa curva em real e até fizemos uma emissão um pouco maior para ter bastante liquidez e dar esse sinal de forma clara”, afirmou nesta quarta-feira, 18, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin.
De acordo com a fonte, quando o mandato foi concedido, o Tesouro mirava uma emissão equivalente em real a 1 bilhão de dólares e que decidiu mais do que dobrar esse montante diante da demanda de cerca de 5 bilhões de reais.
Com isso, tornou o papel BRL 2024, na primeira emissão, um “benchmark”. O Tesouro considera que um bônus torna-se referência para os investidores quando tem estoque de, pelo menos, 3 bilhões de reais.
A liquidez do papel em real tem como objetivo dar uma forte referência a empresas que buscarem financiamento de longo prazo no exterior, evitando exposição cambial. Além disso, permite que o governo limite o fluxo de dólar para o país ao permitir que investidores interessados em títulos da dívida pública fiquem posicionados apenas no exterior, segundo Augustin.
“Ter uma curva forte em reais no exterior auxilia a nossa política para que o real não se valorize excessivamente porque há muitos investidores, em havendo uma curva líquida no exterior, que podem estar posicionados em real sem entrar no Brasil, sem interferir na taxa de câmbio”, disse o secretário.
No mercado asiático, o Tesouro ofertou 300 milhões de reais, mas captou metade desse valor. Arno Augustin buscou minimizar o significado dessa diferença, negando que tenha havido problema de redução de demanda, sobretudo por parte de fundos de pensão japoneses, que geralmente têm mais interesse por papéis da dívida externa em real. “Não há questão relevante nisso (na captação de 150 milhões de reais)”, afirmou.
Além da emissão, o governo anunciou que entre esta quarta e a sexta-feira fará a recompra de bônus globais também denominados em real, com vencimentos em 2016 e 2022. Essa operação também é coordenada pelos bancos HSBC e Goldman Sachs.
O secretário disse que o governo decidiu fazer a recompra para trocar esses títulos por outros com características mais favoráveis, como o rendimento mais baixo. “Quem quer continuar em real troca o título por um mais atual (…) se a gente não faz emissão nova não consegue recomprar”, disse.
A operação de recompra também contribui para a desvalorização do real, porque o Tesouro terá de adquirir dólares no mercado interno para pagar os investidores externos que têm os bônus a serem trocados.
Segundo um analista do mercado financeiro, a operação de recompra também reflete uma demanda cadente para os bônus de 2016, com uma migração para os papéis Global BRL 2022. Augustin negou que exista esse movimento.
HISTÓRICO
O título com vencimento em 2022 – que será alvo de recompra agora- foi lançado em setembro de 2006, com reaberturas em outubro e dezembro do mesmo ano. No total, foram emitidos 3 bilhões de reais.
Já o bônus com vencimento em 2016 foi emitido em setembro de 2005, em um montante total de 3,4 bilhões de reais. O Tesouro Nacional não informou qual montante será recomprado.
A última captação em real ocorreu em outubro de 2010. Na ocasião foram ofertados bônus Global BRL com vencimento em 2028, em um total de 1,1 bilhão de reais, com rendimento de 8,85%.
