Redução da Selic não traz efeito imediato ao consumidor
A taxa básica de juros Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), que já era a mais baixa da história em 8,5%, caiu nesta quinta-feira, 12, mais um pouco, e a partir de ontem se estabeleceu em 8% ao ano, valendo pelos próximos 45 dias. Economista de São Carlos analisa o impacto que a redução traz para o bolso do cidadão comum.
A primeira pergunta ao economista Ronaldo de Cresci, que atua como agente de investimentos da Pró-Valor Investimentos, é qual seria o impacto no bolso do consumidor essa redução da Selic. “Caem os juros da poupança”, afirmou.
À primeira vista, um impacto negativo, afinal, quem poupa deverá ganhar menos com esse tipo de investimento. Entretanto, De Cresci afirma que em efeito-cascata uma série de taxas que estão no dia-a-dia do consumidor deverá ter os reajustes diminuídos como água, energia e telefonia.
Contudo, não significa que a conta ficará mais barata a partir de hoje. São os reajustes que são aplicados anualmente é que serão menores. Já que a Selic, como explicou o economista, é a diretriz da taxa básica de juros do país.
“O governo sinaliza que pretende estimular as atividades econômicas do país que vêm sofrendo desaceleração no ano de 2012. A preocupação com os juros é que eles dificultam o crescimento da economia”, declarou.
O economista avalia que com juros mais altos, as empresas investem menos, por exemplo, na expansão do parque industrial porque fica caro tomar empréstimos para produção. “Neste cenário, as pessoas também reduzem seus gastos, porque o crediário fica mais caro”, define.
Um posicionamento contrário ao do economista, o diretor regional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em São Carlos, Paulo Aleixo Coli, que é vice-presidente e diretor de Operações e Tecnologia da Latina, afirmou que o setor industrial não tem um “refresco” com a queda da Selic.
“O mercado está em baixa e o cenário mostra mais dificuldades. A demanda está fraca, o crédito escasso e de acesso seletivo, o consumidor está endividado e gerando inadimplência, a carga tributária continua elevadíssima, e o câmbio incerto. Não vejo como investir num cenário deste. Não há perspectiva clara do que acontecerá no segundo semestre”, declarou.
A taxa Selic é um instrumento utilizado pelo BC para controlar o consumo e a inflação ou estimular a economia. “Quando a taxa cai, estimula o consumo. Quando sobe, reduz a atividade econômica porque os empréstimos e as prestações ficam mais caros”, explicou Cresci.
Avalia o economista que o benefício desta decisão para as pessoas é que os juros bancários e do crediário passam a sofrer reduções também, não exatamente nas mesmas proporções, mas nesta direção.
“Para quem já assumiu compromissos, nada muda, continua a pagar seus carnês e sua fatura do cartão, mas, em compras futuras com certeza pagará menos pelos serviços financeiros”, disse.
Como funciona
Governo reduz pela 8ª vez a Selic
A oitava diminuição seguida da taxa, que serve de parâmetro para os juros da economia, foi anunciada na quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom), ao fim da quinta reunião do colegiado de diretores do Banco Central (BC) no ano.
O Copom reduziu a Selic, de 8,5% para 8% ao ano, porque entendeu que no momento “permanecem limitados os riscos para a trajetória de inflação”. Além disso, o colegiado de diretores do BC considera que a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária, em razão da fragilidade da economia global.
O diagnóstico faz parte da nota que o comitê divulgou logo após o término da reunião, e acrescenta que em virtude da ausência de pressões inflacionária decidiu, por unanimidade, prosseguir o processo de ajuste das condições monetárias. Com isso, deixa em aberto a possibilidade de novas reduções nas reuniões futuras.
A taxa de 8% é a mais baixa da história do Copom, criado em 1996, vale para os próximos 45 dias, uma vez que a decisão foi “sem viés”. Significa dizer que a taxa básica de juros não poderá mudar até a próxima reunião do comitê, agendada para os dias 28 e 29 de agosto.
Pesquisa da Fundação Procon de São Paulo mostra que, com base nos dados dos sete maiores bancos do país, mesmo considerando as reduções feitas pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco do Brasil, os juros nos bancos caíram muito pouco nos últimos 12 meses: 6,30% na taxa média mensal do empréstimo pessoal, que estava em 5,50% no mês passado, e 12,55% na taxa média do cheque especial, que era 8,36%. Esta é mais alta, em um mês, do que a Selic anual.
O consumidor só se ferra isso sim. Esse malabarismo de taxas não vira nada.