Mudanças exigem reorganização gerencial, aumento de custos operacionais e maior diálogo entre setor produtivo, governo e sociedade
As pequenas e médias empresas brasileiras entram em 2026 diante de dois grandes desafios que devem impactar diretamente sua gestão e rotina operacional: a implantação da reforma tributária e o debate em torno do possível fim da escala de trabalho 6×1. As duas pautas, embora distintas, convergem em um ponto central: exigirão maior capacidade de adaptação, planejamento e coordenação por parte dos empresários e de suas equipes gerenciais.
A reforma tributária, já em fase inicial de implantação, deve provocar um amplo movimento de ajustes internos nas empresas. Por envolver praticamente todos os setores da economia, a mudança altera processos que passam por áreas como compras, contabilidade, financeiro e jurídico. Quanto mais complexa a atividade produtiva, maior tende a ser o esforço de adaptação. Para empresas que utilizam contabilidade externa, o desafio se amplia, exigindo da gerência um papel ainda mais ativo na coordenação entre escritórios contábeis e os departamentos internos.
Segundo o economista do Núcleo Econômico da Acisc, Elton Casagrande, o período de transição impõe custos adicionais e consumo significativo de tempo. “As empresas estão convivendo com dois regimes ao mesmo tempo, o atual e o novo modelo em implantação. Isso demanda horas de trabalho, capacitação de equipes e ajustes de sistemas, o que acaba concorrendo com o tempo dedicado às decisões estratégicas do negócio”, avalia. Ele ressalta, porém, que uma boa organização e planejamento podem reduzir riscos e tornar a transição mais eficiente.
Outro ponto que preocupa o empresariado é o debate sobre o possível fim da escala semanal 6×1. A mudança impactaria diretamente as áreas produtiva, administrativa e comercial, exigindo uma completa reengenharia das escalas de trabalho, da jornada dos colaboradores e do atendimento ao mercado consumidor. “Manter o sincronismo entre produção, equipe e demanda é um exercício diário de gestão. Não se trata apenas de horários, mas de garantir eficiência, qualidade e sustentabilidade do negócio”, explica Casagrande.
Para a presidente da Acisc, Ivone Zanquim, é fundamental que essas discussões avancem com equilíbrio e diálogo. “As empresas não são contrárias a melhorias sociais e trabalhistas, mas é preciso considerar os impactos reais sobre custos e despesas, especialmente para micro, pequenas e médias empresas, que já operam com margens apertadas”, afirma. Segundo ela, as áreas tributária e trabalhista estão entre as mais complexas, dispendiosas e de maior risco para o empresariado, exigindo atenção constante da gestão.
Apesar dos desafios, Ivone destaca que o momento também pode ser de aprendizado e fortalecimento institucional. “Com informação, apoio das entidades representativas e planejamento, as empresas podem atravessar esse período de transição de forma mais segura. Nosso papel, enquanto associação, é esclarecer, orientar e defender um ambiente de negócios equilibrado, que permita crescimento econômico, geração de empregos e desenvolvimento regional”, conclui.
