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USP treina técnicos

Capacitação permitirá mapeamento das áreas com potencial de reutilizar água da agroindústria

16/09/2024 21h57 - Atualizado há 3 semanas Publicado por: Redação
USP treina técnicos Foto: A água de reúso pode servir para irrigação e para fertilização dos cultivos agrícolas Foto: Divulgação/ Secretaria de Agricultura e Abastecimento

Agência SP

Uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento capacitou engenheiros agrônomos para mapear as áreas aptas para o reúso de água da agroindústria na agricultura do Estado de São Paulo. Os treinamentos ocorreram entre agosto e setembro. A expectativa é disseminar práticas para um uso mais sustentável e eficiente da água no setor do agro.

Para isso, pesquisadoras da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP propuseram uma metodologia para que os profissionais estejam capacitados para avaliar essas áreas de reuso. Com ela, foram analisadas duas regiões hidrográficas do estado de São Paulo: a bacia do Rio Mogi-Guaçu, tecnicamente conhecida como UGHRI-09, e a bacia do Rio Piracicaba, que compõe a Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, ou UGRHI-05.

Ao todo, 15 engenheiros agrônomos da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) participaram da capacitação no campus de Pirassununga da USP e estão habilitados para mapear outras bacias hidrográficas do estado. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio do site da Cati, publicará em breve o Guia com a metodologia do mapeamento da aptidão agrícola.

Nem todas as regiões têm o mesmo potencial para receber água de reúso da agroindústria na agricultura. Isso depende de fatores ambientais e características físicas de cada região, que vão desde as propriedades do solo e do relevo até a configuração do uso e cobertura do solo.

“Tem uma questão de logística. Nem sempre a produção desse efluente está próxima de uma área agrícola apta a receber. Há uma questão de viabilidade econômica da produção”, ressalta Tamara Maria Gomes, professora da FZEA da USP.

Considerando esses critérios, o mapeamento da USP apresentado aos técnicos da Cati trouxe que a bacia hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu apresentou alta aptidão para o reúso de água na agricultura. Como a região é predominantemente agrícola, a água de reúso pode ser aplicada principalmente nesse setor.

Como funciona o reúso de água na agricultura

A agroindústria gera uma série de efluentes que podem ser reutilizados na agricultura, por serem ricos em matéria orgânica e isentos de metais pesados. É o caso da água vinda de frigoríficos, abatedouros e de laticínios. Antes de ser reutilizada, essa água precisa ser coletada, tratada adequadamente para que possa atender padrões de lançamento no recurso hídrico, em atendimento à legislação, armazenada para, enfim, ser distribuída.

As águas residuárias podem servir para irrigação e para fertilização dos cultivos agrícolas. No último caso, estudos mostram que o reúso de efluentes da agroindústria podem chegar a suprir até 100% da adubação nitrogenada recomendada para a cultura. “É possível fornecer água com nutrientes para os cultivos agrícolas e, assim, preservar o recurso hídrico”, diz a professora Tamara Maria Gomes.

A docente da FZEA cita que culturas que serão processadas, como a da cana-de-açúcar, capim para feno, café, milho e soja, podem ser beneficiadas pelo reúso da água da agroindústria.

Além disso, a pós-doutoranda pela FZEA Ana Paula Pereira Carvalho explica que pequenos produtores podem ser os principais beneficiados por esse modelo de reúso de água. “Esse volume de água, dependendo da agroindústria, é até pequeno, mas pode suprir a necessidade de alguns produtores, o que diminuiria o uso de recursos de outras fontes.”

Parceria da USP com a SAA

A USP firmou um acordo técnico de cooperação com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Os temas desenvolvidos fazem parte de projetos de pesquisadores de pós-doutorado pelo Programa USP Sustentabilidade (USPSusten), coordenado pela Superintendência de Gestão Ambiental da USP (SGA). Dentre estes está o mapeamento da aptidão agrícola para reúso da água na agricultura.

“Além de entender que a prática do reúso é sustentável e muito promissora para os próximos anos, temos que compreender também qual a região que permite esse reúso. Esse documento vislumbra mostrar para os gestores as regiões aptas para fazer o reúso de água na agricultura. Muitas regiões têm esse potencial”, explica Ana Paula Pereira Carvalho.

O reúso de água na agricultura

A prática de reúso de água para irrigação na agricultura é comum em outras partes do mundo. No Kuwait, por exemplo, cerca de 32% da água do setor de irrigação vem de reúso. Em Israel, esse número está em 24%. A prática se destaca em regiões com escassez de água e, assim, é uma possibilidade para São Paulo enfrentar períodos de estresse hídrico.

Água residuária da agroindústria pode ser reutilizada na irrigação

“Seria uma prática eficiente e com maior sustentabilidade dentro daquela cadeia, porque pega algo que era um problema, o efluente, e transforma em um novo negócio. Abre-se uma possibilidade do ponto de vista econômico”, diz Patrícia Iglecias, Superintendente de Gestão Ambiental da USP e responsável pelo acordo técnico com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Plano Estadual de Irrigação e estiagem

O projeto de reúso de águas da agroindústria na agricultura está em sintonia com o Plano Estadual de Irrigação. Segundo este plano, São Paulo deve chegar a 2030 com 30% de suas áreas agrícolas irrigadas, aumentando os atuais 6%. “A irrigação é uma ferramenta poderosa para o aumento de produtividade, mas ela demanda água. Podemos melhorar a sustentabilidade com água de reúso”, ressalta a professora Tamara.

Por conta da irrigação, a agricultura é o setor que mais consome água no Brasil. 50,5% do volume total, se comparado com outras demandas, como o abastecimento humano com água potável e o uso na indústria, segundo o Relatório da Conjuntura de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico.

 

 

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