Argentina dá refúgio a opositores em sua embaixada na Venezuela
Casa Rosada confirmou que a missão em Caracas recebeu líderes políticos da oposição venezuelana que enfrentam "atos de assédio e perseguição
REPORTAGEM – ESTADÃO CONTEÚDO
O governo do presidente Javier Milei confirmou que deu refúgio a líderes da oposição venezuelana na Embaixada da Argentina em Caracas e denunciou um corte no fornecimento de energia do prédio, no mais recente episódio da crescente tensão diplomática entre os dois países.
A Casa Rosada confirmou que a missão em Caracas recebeu líderes políticos da oposição venezuelana que enfrentam “atos de assédio e perseguição”, mas não revelou a identidade dos dissidentes, depois que a imprensa noticiou que seis ativistas ligados à líder opositora María Corina Machado haviam solicitado refúgio na sede diplomática.
Às escuras
Em seu comunicado oficial, a Casa Rosada denunciou que, após a entrada dos opositores, a embaixada teve a luz cortada sem qualquer aviso prévio ou explicação. As autoridades argentinas expressaram preocupação com o “incidente” e alertaram o governo da Venezuela “para qualquer ação deliberada que coloque em risco a segurança do corpo diplomático argentino e dos cidadãos venezuelanos sob proteção, lembrando a obrigação do Estado receptor de garantir a segurança das instalações da missão diplomática contra intrusões ou danos e preservar a tranquilidade e a dignidade do prédio”.
O governo de Nicolás Maduro não comentou o caso. Segundo a imprensa argentina, Magalli Meda, braço direito de María Corina, está entre os opositores que pediram proteção. Os outros opositores seriam Claudia Macero, Humberto Villalobos, Pedro Urruchurtu e Omar González.
Nas últimas semanas, sete colaboradores de María Corina foram presos sob a acusação de conspirar para “desestabilizar” o governo de Maduro. Outros sete, incluindo Magalli, são alvo de mandados de prisão.
Crise
“O presidente Javier Milei pede que o socialista Nicolás Maduro garanta a segurança e o bem-estar do povo venezuelano e convoque eleições transparentes, livres, democráticas e competitivas”, conclui o comunicado da chancelaria argentina.
As tensões entre os governos de Argentina e Venezuela têm aumentado desde que Milei assumiu o poder, em dezembro. O presidente argentino, um economista ultraliberal de extrema direita, descreve Maduro como um “socialista empobrecedor”.
Em janeiro, um mês depois de Milei assumir a presidência, a Argentina acatou um pedido dos EUA e enviou ao país um Boeing 747 de carga da estatal venezuelana Emtrasur, filial da companhia aérea Conviasa, que é alvo de sanções americanas. A aeronave havia sido comprada da Mahan Air, empresa iraniana, também sob sanções.
O Boeing 747 havia chegado do México com um carregamento de peças automotivas e estava retido no aeroporto de Buenos Aires desde junho de 2022 por uma ordem judicial. A tripulação – composta por 14 venezuelanos e 5 iranianos – foi detida, mas posteriormente liberada.
Irritação
O confisco do avião foi considerado um “roubo” pelo governo venezuelano, que denunciou o “desmantelamento” da aeronave. “O governo neonazista da Argentina é submisso e obediente a seu amo imperial e desconhece as consequências de seus atos de pirataria e roubo contra a Venezuela”, disse o chanceler, Yván Gil.
Em retaliação, a Venezuela fechou seu espaço aéreo para aeronaves argentinas, para aviões que voam em direção à Argentina ou que venham do território argentino, até ser indenizada. Desde então, voos de Buenos Aires para os EUA são obrigados a realizar um desvio na rota para driblar o espaço aéreo venezuelano.