A importância de formar doutores e mestres
Entrevistado: Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato
Iniciamos esta matéria com a seguinte frase: “A educação é algo que nunca termina ao longo de nossa vida”, afirma o entrevistado e autor desta importante reflexão.
Começamos aprendendo o “bê-á-bá”, e depois evoluímos aprendendo diferentes assuntos e ferramentas que nos permitem evoluir, escolher uma profissão, uma direção, e seguir.
Muitas das pessoas param nos estágios básicos da educação, e constituem a grande maioria da quantidade de trabalhadores, que ocupam os postos de trabalho existentes.
Sendo esse importante e necessária “força de trabalho” que compõe e movimentam as atividades desenvolvidas no País.
Na maioria das atividades, a evolução técnica, a modernização constante, a intercomunicação, somadas ao processo de globalização, necessitam de profissionais que consigam ir além da formação fundamental e básica.
Neste momento entra a necessidade de termos profissionais e funcionários com formação e nível superior, que forneça suporte específicos e gerais às pessoas envolvidas na realização das tarefas e desafios diários. A exemplo está a ação profissional de um engenheiro em uma fábrica, onde esse profissional é capaz de dar apoio técnico e geral a um setor com dezenas de empregados. Ou mesmo em um banco, em uma agroindústria, ou outros setores produtivos, onde os profissionais com formação na área estão presentes e atuantes.
A rápida e constante evolução da tecnologia aplicada nas empresas, nos equipamentos, e nos processos produtivos, impõe a necessidade da inovação em todos os setores da indústria, comércio e serviços em diversos segmentos, visando melhorias diretas nos produtos, e em todas as fases até o consumidor final, inclusive na desafiadora área de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos produtos.
E assim para suprir os desafios e necessidades, com o apoio e orientação dos profissionais convencionais, entram em cena os mestres e doutores com potencial e formação adicionais e estratégicas visando suprir as necessidades e desafios de toda cadeia produtiva. Neste sentido, a formação dos mestres e doutores torna-se essencial e necessária para o progresso de todo o sistema.
No passado, a formação de doutores era mais voltada para a Academia, tendo um papel fundamental até os tempos atuais, embora houve uma ampliação neste propósito e formação.
A formação de mestres e doutores, em diversas áreas, deve certamente preencher as necessidades que constantemente estão presentes na sociedade. “Não há dúvida que o País, tem que ter, o apoio de mestres e doutores em praticamente todos os setores “, afirma Bagnato.
Normalmente os doutores eram formados para a Universidade, mas a “nova realidade” mostra que os doutores e mestres vão além da Academia, a assumem o papel de serem protagonistas do desenvolvimento e da inovação.
O Brasil formou em 2017 cerca de 22 mil doutores, e ao longo dos últimos anos cerca de 450 mil mestres e doutores, que ocuparam cerca de 200 mil postos de trabalhos nas mais diversas áreas. Números esses que nos fazem refletir e entender que aproximadamente a cada 1.000 empregados, cerca de 3 deles são mestres ou doutores.
Sendo relativamente baixo essa proporção (3/1000), tamanho os benefícios que esses doutores e mestres representam para o processo produtivo e inovador, onde o ideal poderia ser no mínimo duas vezes maior.
Entende-se que um amplo número de mestres e doutores (média de 50%) não estão sendo empregados no País, apesar de terem sidos formados com investimentos e recursos públicos em sua maioria. Sendo que, na maioria das vezes, estão atuando em postos de trabalho ou segmentos, onde sua valorosa qualificação e formação é irrelevante, desconsiderada, ou se quer utilizada.
Um outro “ponto de estrangulamento” a ser considerado e refletido, é o fato de um grande número de profissionais com mestrado e doutorado, procurarem emprego e oportunidades fora do País, na chamada “fuga de cérebros “.
A maioria do nosso sistema produtivo e inovador depende muito destes profissionais bem qualificados e preparados dentro da proposta e da máxima tríplice: novas tecnologias (fonte geradora de riquezas, rendas, equilíbrio social e desenvolvimento do País), a Inovação, e o desenvolvimento e oportunidade justa de uma sociedade e do País como um todo.
A sociedade gasta e investe uma considerável quantia de recursos para preparar e formar os mestres e doutores, e o “não uso” adequado deles impede e não alimenta o ciclo produtivo e inovador de forma segura e desejada. O que fazer? Formar menos mestres e doutores?
Se adotarmos essa proposta estaremos na “contra mão “do desenvolvimento e do progresso. A saída verdadeira e certa está em continuarmos “produzindo” mestres e doutores, e trabalharmos intensamente em articulações estratégicas e necessárias para o envolvimento destes profissionais no setor produtivo.
Programas de incentivos e apoio devem procurar fixar os mestres e doutores nesta proposta, e assim torna-los de fato, a “espinha dorsal” do sistema de inovação e produção. Pois não podemos, e nem devemos ser, uma “escola preparatória” para os países que já passaram desta fase, e hoje possuem a tradição em incorporar esses profissionais estrategicamente no mercado. E finalizamos afirmando que, junto com um programa agressivo de formação, tem que estar as articulações de fixação e uso da competência destes profissionais.
Fontes: Prof. Dr. Vanderlei Salvador Baganto – Coordenador do CEPOF – INCT – IFSC – USP, e Ms. Kleber Jorge Savio Chicrala – Jornalismo Científico e Difusão Científica do CEPOF – INCT – IFSC – USP.