Recursos Tecnológicos e Ações de Cuidado às Pessoas Idosas
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O aumento da expectativa de vida é considerado uma conquista significativa da humanidade e uma das mais importantes transformações sociais do século XXI.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, em dezembro de 2020, declarou a “Década do Envelhecimento Saudável” (2021-2030) como a principal estratégia para construção de uma sociedade inclusiva para todas as idades. Esta iniciativa global une esforços dos governos, da sociedade civil, de profissionais, universidades, meios de comunicação e setor privado, com o objetivo de melhorar a vida das pessoas idosas, de seus familiares e comunidades. Sendo os pilares dessa estratégia: saúde, participação sociocultural, segurança/proteção e aprendizagem ao longo da vida.
Assim, desde a minha graduação em Terapia Ocupacional na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde atualmente sou docente, até o mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo (USP), tive a oportunidade de cuidar de pessoas com deficiência física e idosas, realizando pesquisas e atividades de ensino e extensão na área dos envelheceres. Sigo essa temática também no pós-doutorado, numa pesquisa com mulheres idosas imigrantes. Além disso, desenvolvi projetos voltados para pessoas idosas que vivem tanto na comunidade quanto em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), com ações terapêuticas ocupacionais que incluíam atividades com a presença de animais, música, dança, história oral de vida, entre outras.
Durante minha atuação no Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC-USP) – Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF) – INCT, coordenado pelo Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato, participei de equipes inter/transdisciplinares. Um dos projetos desenvolvidos foi a criação de um protótipo que combina laser e ultrassom para o tratamento da osteoartrite nas mãos e joelhos. A osteoartrite, também conhecida como artrose, é uma doença crônica e degenerativa que causa dor e perda gradual da cartilagem articular. Pode afetar várias articulações, resultando em deformidades, inflamação e redução da função articular.
Nesse contexto, o desenvolvimento e a aplicação de recursos tecnológicos desempenham um importante papel na reabilitação de lesões nos sistemas muscular, tendinoso, articular, ósseo, neural e cutâneo, além de aliviar a dor, inflamação e melhorar a funcionalidade. O ultrassom (US), por exemplo, converte energia vibracional em molecular, gerando efeitos terapêuticos. Já o laser, por meio de ondas eletromagnéticas, ao ser absorvido por biomoléculas, ativa o metabolismo celular, promovendo bioestimulação. Diante disso, desenvolvemos um protótipo de um dispositivo que combinou US e laser para a reabilitação física e nossa equipe estabeleceu um protocolo clínico para a aplicação deste novo equipamento. O protótipo foi construído com quatro lasers infravermelhos (808 nm) ao redor de um transdutor piezoelétrico de US. Durante os estudos clínicos, o US foi aplicado com gel condutor transparente em modo pulsado (1 MHz, ciclo de trabalho de 50%, 1 W/cm²) e lasers infravermelhos com potência de 100mW, no modo contínuo. O tratamento, nas mãos de mulheres idosas, teve duração de 15 minutos, semanalmente, por três meses. Os resultados mostraram uma redução significativa da dor, além de melhora na funcionalidade e qualidade de vida, com várias voluntárias relatando a retomada de atividades cotidianas e o início de novas práticas. Este foi um passo inicial e outras equipes também contribuíram para o avanço desse projeto inovador.
Apesar do crescimento das pesquisas sobre o envelhecimento e do aumento expressivo da população idosa no Brasil – composta por pessoas com 60 anos ou mais – ainda há uma falta de valorização desse grupo e de suas diversas experiências de vida. Esse cenário é agravado pela presença de estereótipos e pelo preconceito em relação às pessoas idosas, conhecido como idadismo ou etarismo ou também ageísmo, que pode resultar em violência e exclusão social. O envelhecimento é um processo dinâmico e heterogêneo, influenciado por fatores como gênero, etnia, condição econômica, experiências de vida, acesso a tecnologias, ambiente físico e sociocultural, além da presença ou ausência de redes de apoio familiar e comunitária, além de políticas públicas específicas.
Assim, promover a tolerância à diversidade, tratar as pessoas idosas com respeito e incentivar a intergeracionalidade , a troca de conhecimento, afetos e convivência entre diferentes idades – são estratégias importantes para combater o preconceito contra as pessoas idosas. Estes aspectos, somados ao acesso a recursos tecnológicos, podem contribuir para uma sociedade mais justa e com melhor qualidade de vida para todos.
Fontes: Profa Dra Alessandra Rossi Paolillo – Docente do Departamento de Terapia Ocupacional, da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, e pesquisadora colaboradora do CEPOF – INCT – IFSC – USP; Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato – Coordenador CEPOF – INCT – IFSC – USP e membro do Grupo de Óptica – IFSC – USP; Me Kleber Jorge Savio Chicrala – Difusão Científica e Jornalismo Científico CEPOF – INCT – Grupo de Óptica – IFSC – USP