O fim do ano está se aproximando. Assim como as reuniões que acompanham essas datas festivas. Seja o Natal, o Ano Novo ou as confraternizações.
E, em todas estas, há uma personagem que costuma, infelizmente, ser comum: a da pessoa inconveniente. É aquele que faz sempre um comentário sobre: o peso alheio, separação recente, uma perda ou um falecimento.
É o indivíduo acostumado a criar desconforto e tratar isso de forma velada, como uma curiosidade mórbida. É o desrespeito aos limites do outro, que causa um desconforto geral. Se vai além da falta de educação, é muito mais que ser inconveniente.
Sabe-se que um “limite” é um pacto psicológico e social que determina até onde uma relação pode ir e do que pode tratar. Pacto baseado na moralidade de cada um e acordos éticos do grupo. Sendo estabelecido, por exemplo, por contratos, falas, textos ou combinados (implícitos ou explícitos).
Uma vez que esses limites são estabelecidos na relação e uma dessas partes (indivíduo ou grupo) escolhe repetidamente ultrapassá-los, se está optando pelo desrespeito. Essa preferência por violar o outro é o que se chama de abuso psicológico, que é uma forma de violência.
E é muito importante se nomear essa dinâmica. Pois o abuso psicológico tem como característica ocorrer de forma velada. Ou seja, é encoberto por humor, piadas, falsos moralismos ou ironia.
Por causa disto, quem o sofre tem dificuldade de identificar esse abuso, de nomear o sofrimento pelo o que ocorreu. E maior dificuldade ainda de se desvencilhar dessa dinâmica violenta.
Quem sofre nas mãos dessas pessoas abusivas apresenta o sintoma do cansaço como ilustrativo. Porque têm sempre que explicar: o próprio corpo, justificar tudo que querem, nomes, restabelecer limites e quem são.
Tudo em prol do mínimo respeito. Já que, para quem é “inconveniente”, só se é aceito, caso você caiba nas expectativas deles.
Mas, esse cansaço, não é fragilidade. É ter que estar em prontidão simplesmente para se defender por ser você. E pode se manifestar de várias maneiras, como: silenciamento, culpa, afastamento, raiva, revolta, brigas, ansiedade, angústia, tristeza, depressão ou sentimento de que existir é preciso um esforço para poder existir.
Lembrando que os limites podem ser reestabelecidos, já que muitas relações têm a capacidade se tornar saudáveis e funcionais. E que as festas de fim de ano têm potencial até mesmo de ser esse espaço de reconexão.
No entanto, tudo isto só é possível se quem é disfuncional e pratica esse abuso psicológico escolher parar de fazê-lo, responsabilizando-se pelos próprios atos. É impossível que se reconstrua uma relação saudável, na qual uma pessoa é sempre vítima e a outra é agressora.
Não é sobre criar brigas generalizadas. Mas, sim, sobre entender que não se cabe mais em alguns espaços que nunca deveriam ter sido preenchidos.
Neste sentido, a psicoterapia é extremamente importante. Pois, permite que uma pessoa entenda melhor sobre suas relações, as dinâmicas dessas, que não precisa se explicar constantemente para ser respeitada e que a sua existência é válida e digna de respeito.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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