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Feminicídio: a escalada do ódio em 2025

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Recentemente, as notícias envolvendo casos de violência contra as mulheres chocaram pelo número e gravidade. E envolveram ataques físicos, sexuais, torturas e morte.

O “feminicídio” é a tipificação de crime que ocorre quando um homem mata uma mulher por ela ser mulher. Isso significa que a violência é movida pelo ódio ao gênero dela.

Dados do “Mapa Nacional da Violência de Gênero” (2025) apontam que só nos primeiros 6 meses de 2025 foram registrados 718 feminicídios no Brasil. Esta é a plataforma oficial do Governo do Brasil que reúne dados sobre casos de violência contra a mulher. Ou seja, entre 3 a 4 mulheres foram mortas por dia. Já o Senado Federal (2025) também informa que foram catalogados 33.999 estupros no mesmo período, uma média de 187 por dia.

No dia 29 de novembro de 2025, uma mulher, de 31 anos, foi atropelada por um homem e ficou presa debaixo do veículo. Ele prosseguiu e a arrastou por uma via marginal de São Paulo, capital, por mais de 1 km. Devido à severidade das lesões, ambas as pernas dela foram amputadas. A violência ocorreu após ela pedir pelo fim do relacionamento esporádico entre eles, algo que ele não vinha aceitando, de acordo com o G1 (2025).

Em outro caso, Thiago Schutz, conhecido como “Calvo do Campari”, também foi preso em flagrante no dia 28 de novembro, por violência doméstica e lesão corporal. Isso após denúncia da namorada, que o acusa de agredi-la depois de ela se recusar a ter relações sexuais, usando então da violência como forma de forçá-la a se submeter ao sexo.

Todos estes casos não aconteceram do nada. Eles têm uma narrativa de permissividade social que se escalona. A qual muitos escolhem ignorar. Não é a vítima que não vê. É o grito de socorro dela que é ignorado.

Isto porque não se começa a história no feminicídio. O início é: ao fazer vídeos dizendo que as mulheres “boas” são as submissas, com gritos, tapas, chutes, com o estupro, com a violência financeira e psicológica, com piadas, com relativizar o sofrimento alheio.

Para a autora Judith Butler (2020), há uma crença psicossocial de que algumas pessoas podem ser mortas. Já que são menos dignas de compaixão e luto. Estes “corpos que não importam”, são marcados por desigualdades de poder, como no caso das mulheres. As quais, uma vez que se desencaixaram da subserviência nestes relatos acima, foram colocadas como inimigas a serem violentadas.

Por isto, mesmo com provas como fotos e relatórios periciais de tapas e chutes, vídeos pedindo por socorro, vídeos em que o “calvo do Campari” diz explicitamente que “pra mim você não nega” (se referindo à tentativa de estupro), mesmo com as pernas amputadas, há quem não veja a violência ocorrendo. Ou que diga que o feminicídio não existe no Brasil.

Neste sentido, ódio e desejo de extermínio ao gênero feminino diz muito da incapacidade daqueles que são os agressores e também daqueles que se relacionam com esses. Porque tal violência parte da incapacidade de lidar com aquilo que é diferente, que gera afeto, frustração ou foge do seu controle. A reação de “matar” surge da inadequação social e incapacidade de responsabilizar-se pelos próprios sentimentos.

Portanto, além de uma ação social e no campo das leis. É preciso que existam ações de conscientização e educacionais para a população, a fim de combater essa crescente de violência. E, o papel do psicólogo e da Psicologia é, aqui, de entender o contexto social e criar caminhos de acesso à informação e psicoeducação.

Na terapia com psicólogo, especificamente, é possível que uma pessoa em situação de violência se fortaleça, busque por canais e redes de apoio para se libertar dessa situação, se torne mais independente e autônoma, assim como possa lidar com situações que sucedam desses episódios de violência. E que alguém que sente tal agressividade, lide com isso antes que seja consumido pela mesma.

 

Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)

Psicanalista especializado em gênero e sexualidade

Redes: @psicologo_matheuswada

WhatsApp: (16) 99629 – 6663

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