A questão da “liberdade de expressão” está sendo discutida após a condenação recente de Léo Lins. O artista foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão e pagamento de multas por um show feito em 2022.
No show, que foi gravado e distribuído para o público geral, Lins traz declarações ofensivas e preconceituosas contra negros, homossexuais, pessoas com deficiência, pessoas acima do peso, pessoas com HIV, idosos, evangélicos, judeus, indígenas e nordestinos.
Adicionalmente, há falas pelo artista sobre a banalização da pedofilia. Em que ele implica, por exemplo, que o comportamento correto após estuprar uma criança seria o de “comprar” o silêncio dela com brinquedos, a fim de evitar a denúncia.
Mas, será que a condenação é só o politicamente correto? E a psicologia, tem alguma relação nisso?
Pode-se afirmar categoricamente que não é só o politicamente correto em ação. E essa afirmação tem base psicológica e científica.
O termo “politicamente correto” foi criado por movimentos sociais com a finalidade de evitar o preconceito e marginalização de grupos minoritários. Porém, é muitas vezes utilizado de forma errada para desvalidar discursos importantes.
Já a Psicologia Social é o ramo da psicologia que estuda o impacto da sociedade na mente humana. E essa mostra através de estudos e pesquisas como a fala, as piadas e a arte podem moldar o pensamento de grandes grupos.
Já que, quando uma opinião é difundida em forma de piada por uma figura pública para o grande público, essa fica no inconsciente. E, por estar sob a fantasia de ser algo que já foi pensado sobre, geralmente não há uma reflexão posterior sobre esses pontos de vista.
O que implica no fato de que, uma vez feita a piada preconceituosa, o pensamento estigmatizado sobre o grupo atingido se instala na mente da pessoa que ouviu. E ali permanece a menos que a pessoa tenha uma ação consciente de combater isso.
Uma vez instalado esse preconceito inconsciente, ações inicialmente mais despercebidas são tomadas para perpetuá-lo e depois se tornam mais conscientes. Pois, foi ouvido de uma figura “caricata, legal ou de referência”. E já que “alguém ficou rico falando isso, o que impede a pessoa comum de se tornar também?”
Outros questionamentos importantes são: aqueles que se revoltam com a condenação de Léo Lins e com o “politicamente correto”, estão defendendo qual fantasia exatamente? A de uma liberdade irrestrita e sem consequências? A da ausência de leis? A de poder ofender a todos sem distinção? Ou a fantasia de retomar um saudosismo em que as pessoas eram ofendidas, mas ficavam caladas?
É uma fantasia infantil de querer falar tudo e nunca levar bronca dos pais. É a criança que quer fazer tudo sem limites, é uma birra. E como toda birra, precisa ser castrada para que se possa viver em sociedade.
Por isso, para além dos aspectos legais e jurídicos que foram infringidos, é importante o papel da psicologia e da psicoterapia. Pois, a partir dessa é possível lidar com preconceitos que foram internalizados sob a roupagem de “opiniões”, desejos infantis, dificuldades de lidar com frustrações e pontos de vista.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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