“Lovebombing”: será que toda declaração é de afeto?
Tem-se que, quando se apaixona ou se cria fortes vínculos emocionais com alguém
Imagine um cenário que é até comum: você conhece uma pessoa, seja um amigo ou um parceiro romântico. E essa pessoa começa a fazer declarações sobre como sua presença é importante e necessária na vida dela. E de repente essa pessoa some por alguns dias.
Parece em um primeiro olhar algo bom, que demonstra um afeto, mas também que a pessoa é ocupada, não? No entanto, como fica esse cenário se essas declarações vêm antes mesmo de uma conexão real com esse outro alguém? Antes de que vocês se conheçam? Ou se essas começam a parecer muito exageradas e fora de lugar?
Esse é o primeiro sinal de que você pode estar passando pelo “lovebombing”, ou bombardeio de amor, como é chamada essa tática de controle emocional. Pois, essas demonstrações descabidas e exageradas de amor e afeto, principalmente antes de que se estabeleça um vínculo de tempo e conexão, podem ter objetivos escondidos.
Tem-se que, quando se apaixona ou se cria fortes vínculos emocionais com alguém, o cérebro opera num sistema de recompensa e prazer em resposta às ações do outro. Por exemplo: ver a pessoa por quem se está apaixonado deixa alguém feliz ou eufórico; de início é difícil se atribuir características negativas a pessoa que se está gostando; ou a pessoa amada se torna motivadora de novas atividades e hábitos.
E no lovebombing, esse mecanismo é levado ao limite. Para que se possa iniciar o segundo ato da manipulação. Nesse, a pessoa que fazia as declarações hercúleas e espalhafatosas, passa a ignorar a vítima de manipulação emocional.
Como consequência, a vítima que está acostumada a esse funcionamento sintomático, começa a buscar essa resposta de afeto prazeroso de qualquer forma. Mesmo que isso implique em se colocar em segundo lugar e ignorar seus próprios limites e morais. E é nesse momento que se iniciam os abusos.
Pois, uma vez que o parceiro acostuma a pessoa a ser controlada nesse funcionamento, a vítima começa a achar comum que: demonstrações exageradas sejam os únicos afetos válidos no relacionamento; que essas demonstrações se tornem desculpas ou justificativas para comportamentos agressivos do outro; que nessa mesma lógica, se a vítima não concordar a situações como uso de substâncias ou práticas sexuais forçadas, não é digna de ser amada.
A psicoterapia pode ter papel significativo com aqueles que são responsáveis por fazer o lovebombing. Pois, essa tática de manipulação emocional muitas vezes é perpetuada por pessoas com questões de narcisismo e baixa autoestima. Ambas que podem ser elaboradas no setting terapêutico.
E, também se faz importante ao falarmos das vítimas que estão sendo manipuladas emocionalmente. Podendo ajudar a identificar desde o início os comportamentos controladores e tóxicos do outro, a lidar com as angústias que o lovebombing pode gerar e também a como sair desse funcionamento sintomático.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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