Luto em vida, como dizer adeus a quem ainda está aqui?
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Todos já passaram por uma experiencia de separação. E o que se segue é o processo de luto. Mas como lidar com isso quando aquele de quem se separa não vai embora?
O luto, para a psicanálise, é uma vivência que desestrutura a pessoa após a perda consciente de algo ou alguém amado. É uma resposta a ausência do outro. Portanto, durante a superação desse sentimento, o indivíduo precisa se reorganizar psiquicamente.
Durante a vivencia do luto, são comuns sintomas como: problemas de sono e concentração, irritabilidade, insegurança, fadiga, dores de cabeça, mudanças de alimentação, sensação de perda de memória e perda de interesse em atividades sociais.
Contudo, o processo do luto é natural e varia em tempo de pessoa a pessoa. Porque sua elaboração depende de experiencias passadas, personalidade do indivíduo, contexto, proximidade com quem se foi, presença ou não de uma rede de apoio e como são feitos os ritos de despedida.
Deste modo, uma vez que o luto é vivenciado, permite ao sujeito reencontrar seus significados e felicidade. Voltando o amor que antes estava no outro, para si.
Ademais, sabe-se que há diversos momentos da vida em que se entra em contato com o luto após uma perda física, porém, há ocasiões nas quais o que é amado continua ali.
O “luto em vida” é uma experiência que ocorre quando: se rompe um relacionamento ou amizade, ocorre o afastamento de familiares, alguém próximo é diagnosticado com uma doença terminal (câncer ou Alzheimer em estágios avançados, por exemplo) ou mesmo passa por mudanças significativas de personalidade devido uma condição (como a demência).
Devido aos rompimentos emocionais sem separação física, esse período se torna desafiador, porque se combina uma incerteza sobre o futuro, com uma dor da perda que não é totalmente processada. Pelo fato de que o que é amado não some fisicamente.
No entanto, a percepção de que o outro vai deixando de estar lá se instala aos poucos na consciência. O que equivale a uma morte. Isso resulta em sentimentos de dor, vazio, tristeza, raiva, culpa, perda de valor, alívio e confusão.
Por isso, primeiro é preciso dizer adeus ao que se sente pela pessoa, para que depois seja possível se despedir dela de forma real. Esse último, sendo o momento que o luto pode ser elaborado.
Não é preciso abolir quem se foi das suas memórias. Mas sim aprender a voltar o amor que antes era direcionado a esse outro, para si. Para que a memória não seja fonte de sofrimento. Caso isso não seja feito, se cria uma dependência afetiva desse outro.
Nesse quesito, a terapia pode ser de grande valia. Dentro do espaço seguro e de cura, o psicólogo pode ajudar: a aceitar a realidade da perda e elaborar essa dor; fortalecer emocionalmente o paciente; ajudar no reajuste do dia a dia sem a pessoa que se foi; e a superar uma possível dependência afetiva.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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