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No autismo, será que tudo é birra?

De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (2019), o autismo (cientificamente chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA)), é um quadro de saúde que apresenta prejuízos ao neurodesenvolvimento. Isso significa que os processos do sistema nervoso e de funções do cérebro ocorrem de forma diferente das esperadas para as faixas de idade.

No autismo podem haver: questões com habilidades motoras, problemas de comunicação ou de fala, de socialização, de comportamentos, atividades e interesses repetitivos e rigidez ou restrição de rotinas. Variando de pessoa a pessoa.

As particularidades ou necessidade de suporte de uma pessoa com autismo pode gerar dificuldades dela ao lidar com o ambiente, com mudanças, ou ao enfrentar frustrações, seja pela dificuldade de comunicação de suas angústias ou pela falta de recursos psíquicos para significar e elaborar as ansiedades e frustrações, o que pode levar a alguns comportamentos de crise.

A birra é o comportamento de crise pelo qual toda criança passa. Ocorre quando a pessoa está tendo uma expectativa quebrada, cria-se uma falta de algo que pode ser insuportável para o momento. E, diante da dificuldade de se autorregular emocionalmente sozinha, a pessoa recorre a fazer birra.

Por exemplo, uma criança que está com seu brinquedo no recreio. Mas aparece uma outra criança, empresta o brinquedo, porém brinca por mais tempo que o combinado. Essa quebra de combinado e expectativa já criam angústia e ansiedade que podem ser demais (sem o brinquedo que era o que ajudava a primeira criança a se regular). Aí tem-se uma birra. Pode-se chorar, gritar, machucar a si ou ao outro ou quebrar objetos.

Por outro lado, uma crise é um episódio em que uma pessoa tem comportamentos intensos, repetitivos ou que duram por muito mais tempo. É também vista como uma desorganização emocional e dificuldade de se autorregular. E fala de um grande sofrimento psíquico.

A diferença é que uma crise costuma ocorrer como uma resposta a uma sobrecarga de gatilhos estiver em uma situação muito fora do seu controle. Como por exemplo, uma pessoa com TEA ser levada a um lugar barulhento, com muitas luzes; ou não dormir direito devido a medicação. Deste modo, evitar os gatilhos identificados antes das crises, pode ajudar a prevenir muitas delas.

Durante a crise a pessoa pode: gritar, agredir a si ou aos outros, xingar, quebrar objetos, fugir, apertar, ter várias formas de descontrole. É uma tentativa de colocar pra fora do psiquismo tudo que está demais de sofrimento dentro de si.

Contudo, embora ambas (birra e crise) sejam em resposta ao sofrimento, no corriqueiro as pessoas julgam uma pessoa que faz birra, ao mesmo tempo que acolhem quem tem uma crise. É importante que esse julgamento moral não seja feito, principalmente sobre as pessoas com autismo.

Ademais, visualmente e sem conhecer a criança ou pessoa, é quase impossível distinguir uma birra de uma crise. E, mesmo que se saiba a diferença, esses comportamentos têm o objetivo (mesmo que disfuncional) temporário de aliviar um sofrimento que a pessoa não sabe como fazer de outra forma.

Daí a importância de um acompanhamento com um psicólogo e com profissionais cientificamente treinados. Através da psicoterapia é possível que se identifiquem os primeiros sinais e sintomas entre os 12-24 meses de idade; ensinar e instrumentalizar uma pessoa com TEA a se autorregular; ajudar a identificar o que leva a uma crise para trabalhar nas suas prevenções; além de ensinar formas mais seguras, funcionais e saudáveis de se passar por uma crise.

 

Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)

Psicanalista especializado em gênero e sexualidade

Redes: @psicologo_matheuswada

WhatsApp: (16) 99629 – 6663

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