O movimento “redpill” (pílula vermelha) tem sua origem no filme Matrix (1999). Nesse, o protagonista precisa escolher entre tomar a pílula azul e viver as ilusões de uma realidade virtual ou a pílula vermelha e tomar consciência da verdadeira natureza do que o mundo se tornou. As criadoras da saga Lana e Lili Wachowski são mulheres transexuais e criaram a cena como alegoria para o tomar de pílulas de estrogênio e a transição de gênero.
O movimento “redpill”, no entanto, se apropriou dessa cena e diz que a cena fala sobre se “livrar das amarras e lavagem cerebral que o feminismo impõe na sociedade”. E para que para se livrar também, basta pagar caro para um coach para aprender como.
Já o movimento “Legendários” é um movimento católico que propõe “transformar homens para encontrarem suas melhores versões” (de acordo com vídeos do Instagram). Fazendo isso através de atividades físicas intensas, pregações em locais remotos, exclusividade da participação do sexo masculino e pagamentos de altos valores para poder ser incluído no grupo.
Esses dois movimentos têm em comum o fato de se encaixarem na ideia de que é necessário resgatar um ideal de masculinidade, o qual se perdeu na sociedade atual, e colocam o sexo feminino como “tendo muitos direitos” ou “recebendo tratamentos preferenciais”. Desta forma, cabe aos adeptos, restaurarem a “ordem natural” das coisas, em que “o homem é o pilar de tudo”.
Tanto os “redpills” quanto os “legionários” e até mesmo os “incels” (citados em textos anteriores) abusam dos ideais e fantasias sociais de que “para ser homem, precisa fazer tal coisa”. Por exemplo, é preciso: ser guerreiro, soldado, provedor, pai, dominante, pegador, sociável, falar alto, vestir tais roupas, fazer sexo com tal idade, ou gostar de tais cores.
São todas coisas que foram estruturalmente e fantasiosamente perpetuadas como objetivo e desejo de consumo na masculinidade. Porém, como a maioria das fantasias, não são passíveis de serem facilmente atingidas.
E isso gera frustração e medo. O que leva à raiva e ao desejo de destruir e suprimir o inimigo, o feminino. Deste modo, há uma desconfiança obsessiva e medo do que sexo feminino pode fazer. Colocando-o como um inimigo a ser subjugado e colocado na posição de submisso e sem direitos.
A verdade, é que não existe uma “crise da masculinidade”. O que há: é o fato que as expectativas sobre o que se é “ser homem” não fazem mais sentido com o desenvolvimento da sociedade.
O que se precisa, é parar de buscar soluções fáceis e prontas para a angústia gerada por uma mudança social. O que resultou em uma transformação do que se é esperado das pessoas, suas expectativas, frustrações e relações pessoais.
Por isso, se faz necessário um local possível de pensar, lidar e elaborar tudo isso e as formas com que se é afetado por essas mudanças. Desse modo, o espaço da terapia com um psicólogo pode ser o ideal.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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