Por que estou sempre reclamando?
Os ganhos secundários e como eles nos influenciam

É comum que um paciente em tratamento apresente falas como “não consigo me livrar da minha ansiedade”, ou “acho que eu vou ser assim para sempre”, ou ainda “parece que eu nunca mudo”. Falas que revelam o modo de funcionamento do mundo mental do indivíduo.
Isso ilustra que a pessoa, após estar adoecida por um sintoma (ou transtorno) por determinado tempo, precisou aprender a “funcionar” ao redor do mesmo. Por exemplo, para que uma pessoa ansiosa possa ser produtiva e viver o seu dia-a-dia, ela precisa aprender a se articular ao redor de suas mudanças de humor, medos e irritações.
No entanto, quando se faz essa dança psicológica ao redor de um transtorno, algumas coisas também são ganhas. É comum que alguém ansioso, mesmo reconhecendo que a ansiedade atrapalha em provas educacionais, ganhe o benefício de ficar “pilhado” na noite anterior e conseguir estudar muito o conteúdo pedido nas mesmas.
Outros exemplos comuns são: uma criança medrosa ou mimada perpetuar esse comportamento, pois alguém sempre atende as suas demandas, ou alguém que se irrita muito fácil no ambiente de trabalho, tenha sempre suas atitudes perdoadas, pois “é o jeito que fulano é”.
Essas consequências são o que se chamam de “ganhos secundários” de um sintoma. Ocorrem quando se reconhece que há algo que prejudica a saúde física ou mental do indivíduo e, ao mesmo tempo, se faz a manutenção do transtorno para que esse se perpetue. Isso porque se geram pequenos ganhos que encobrem os lados ruins da doença.
Então, podemos dizer que as pessoas sempre querem ganhar algo com suas doenças? Ou que são culpadas por serem doentes? Não. Essa manutenção dos sintomas secundários é feita de maneira inconsciente pela pessoa e também ocorre de forma a tornar a doença psiquicamente suportável em seu início.
Daí a necessidade de em terapia e no momento em que o paciente está preparado para tal, arcar com as consequências de trazer esses ganhos secundários à consciência. Isso responsabiliza a pessoa pela parte que lhe cabe na sua queixa, permite que a pessoa perceba que não necessita continuar sendo daquela forma, elabore suas questões e se livre do sintoma.
Matheus Wada Santos
CRP 06/168009
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