Sharenting, entre amar ou expor uma criança na internet
Não é incomum de se ver contas nas redes sociais dedicadas a casais que acabaram de saber de uma gravidez ou pais com filhos pequenos
Tornou-se corriqueiro o ato de registrar momentos importantes com fotos na internet e esses registros têm começado cada vez mais cedo para as gerações mais novas.
Não é incomum de se ver contas nas redes sociais dedicadas a casais que acabaram de saber de uma gravidez ou pais com filhos pequenos. E, que se tornam posteriormente, feeds com momentos do dia a dia de bebês e crianças.
Esse é o exemplo do termo “sharenting”: aquele que une as palavras em inglês “share” (compartilhar) e “parenting” (parentalidade). E envolve o ato de compartilhar momentos de vivência dos filhos em redes sociais.
Todavia, essas publicações podem apresentar algumas questões psicológicas importantes de serem pensadas. Tanto para os pais, quanto para os bebês e crianças.
No caso dos pais, esses compartilhamentos podem vir a se tornar uma espécie de recompensa pelo “trabalho invisível” da maternidade ou paternidade, pois, através dos “likes”, seus esforços são reconhecidos e validados psiquicamente.
Porém, apesar de se propor como um ato inofensivo e ser feito com boas intenções e amor, expor algo pessoal e sem o consentimento de alguém, pode na verdade, colocar essa pessoa em uma situação de desamparo.
Assim, momentos que inicialmente podem parecer fofos ou engraçados para a publicação, se tornam posteriormente danosos para as crianças quando elas crescem e entendem os limites da vida online. E acaba por resultar em problemas de: aprovação, autoimagem, pertencimento e de laço familiar.
Isto porque, ao se apagar os limites psíquicos entre “interno e externo” e “público e privado” desde muito cedo, a criança pode ter conflitos e questões com: autoimagem, ansiedade, construção de personalidade, de construção de laços de afeto, de transtornos alimentares, depressão e dificuldade nas tomadas de decisões.
No entanto, isto tudo não significa que é impossível ou perverso se ter um registro do crescimento dos filhos de forma online.
Em terapia com um psicólogo, por exemplo, é possível: pensar sobre os limites de como fazer os compartilhamentos e quem deve ter acesso a esses; maneiras de fazê-los que respeitem os limites dos filhos; de onde e por que se tem a vontade de criar esse tipo de registro; e formas de se conectar e ter memorias afetivas de uma maneira mais saudável.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
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