ENTREVISTA!!!

Nickolas Peixoto diz que pichar Conde do Pinhal foi protesto contra ‘legado escravocrata’ em São Carlos

A entrevista de Nickolas Peixoto, de 23 anos, concedida à São Carlos FM [107,9] nesta terça-feira, 27, marcou o desfecho de uma série de pichações que chamaram atenção de moradores e autoridades da cidade de São Carlos. Mestrando em Física pela Unicamp e autodeclarado comunista, o jovem assumiu a autoria dos atos que atingiram monumentos públicos como a estátua do Conde do Pinhal, defronte ao Palacete Conde do Pinhal, e a tábua dos Dez Mandamentos, na Praça Santa Cruz.

Ao lado do seu advogado Caio Garcia, Nickolas argumentou que as ações foram planejadas como uma manifestação político-artística, com o objetivo de levantar debates sobre símbolos históricos e estruturas de opressão social ainda presentes, segundo ele, no espaço urbano brasileiro. “A ideia foi causar espanto, provocar uma reflexão. O Conde do Pinhal, por exemplo, é uma figura ligada à escravidão. São Carlos, no Censo de 1872, tinha 11 mil habitantes, dos quais 4 mil eram escravizados. Isso não pode ser ignorado”, afirmou.

Além dos dois monumentos centrais, o estudante também pichou um adesivo na avenida São Carlos, com os dizeres “Pena de morte para traficantes”, e realizou outras ações em pontos como a Praça Coronel Salles e diversos semáforos. As intervenções foram feitas, segundo ele, sem a intenção de causar dano estrutural. “Não houve destruição. A intenção era intervir simbolicamente e chamar atenção para questões urgentes, como o racismo estrutural e o papel da memória pública”, explicou.

Ideologia e repercussão

Durante a entrevista, Nickolas reforçou seu alinhamento à esquerda radical e negou vínculos com partidos políticos. “Não sou filiado a nenhum partido político e não pretendo disputar eleições. Minha atuação é política, mas não preciso estar filiado a partido para isso”, disse.

Ao ser questionado sobre uma eventual ordem judicial para apagar as pichações, afirmou que respeitará a decisão — embora não acredite que isso vá acontecer. Para ele, o objetivo foi cumprido: chamar a atenção para o debate sobre símbolos históricos e religiosos em espaços públicos.

O estudante também comentou a repercussão nas redes sociais e nos veículos locais de imprensa. “Muita gente foi contra, claro, mas o debate aconteceu. Isso já é uma vitória. Pela primeira vez, a cidade discutiu abertamente os símbolos que mantém em praças e avenidas”, afirmou. Ele também revelou que sua mãe foi avisada previamente sobre as ações. “Conversei com ela, expliquei minhas intenções e ela foi compreensiva. Sempre tive apoio do lado materno da minha família”, afirmou.

A defesa e os desdobramentos legais

Responsável por representar Nickolas, o advogado Caio Garcia destacou que o jovem se apresentou espontaneamente à Polícia Civil e que já houve contato com o escrivão responsável pelo inquérito. “Ele confessou os atos, mas a defesa sustenta que não houve crime. A intenção não era danificar o patrimônio, mas expressar uma opinião política e artística. Os produtos utilizados não causam prejuízo permanente. Essa conduta deve ser analisada com base no direito à liberdade de expressão”, disse.

Garcia também defendeu o princípio da proporcionalidade. “Vivemos tempos em que manifestações políticas são criminalizadas com frequência. A conduta de Nickolas não pode ser equiparada à de vândalos ou infratores comuns. Ele iniciou um debate que estava ausente da cidade. Isso deve ser valorizado”, completou.

O caso segue sob investigação da Polícia Civil e deve ser encaminhado ao Ministério Público, que decidirá se oferecerá ou não denúncia contra o ativista.

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