28 de Junho de 2024

Dólar

Euro

Notícias

Jornal Primeira Página > Notícias > Palavra

Palavra

04/10/2014 12h36 - Atualizado há 10 anos Publicado por: Redação
Palavra

A televisão me deixou burro, muito burro demais!

(Titãs)

 

Essas história – verídica – eu contei há três anos, quando o meu filho tinha seis anos de vida. Há duas semanas, quando ele completou nove, nos lembramos e rimos juntos. Resolvi re-compartilhar aqui, com vocês.

É impressionante como a televisão atrai a atenção das pessoas. Sou de uma geração que foi educada sob a necessidade de tomar cuidado com os malefícios que a TV poderia gerar. Na década de 80, ainda não havia um grande número de pesquisas sobre a forma que a TV poderia influenciar o expectador.

A primeira televisão chegou a minha casa quando eu já tinha treze anos de idade e a primeira Copa do Mundo de que me lembro foi a de 1982 – Tragédia do Sarriá – assistida na casa dos meus padrinhos. 

Hoje, aos 39, procuro evitar que meus filhos troquem os livros e as brincadeiras pela TV. Nada contra o tubo, mas ele nos deixa passivos frente à vida; reproduzimos manchetes e comentários de gente que não teria, outrora, estofo intelectual para opinar sobre determinado assunto. George Orwell, em seu livro, 1984, popularizaria o termo Big Brother e o controle do estado sobre as pessoas através do uso da TV. 

Mas não acho que a TV seja totalmente negativa. O problema é que o modelo de televisão que temos foi importado dos EUA e é totalitariamente comercial, vive de índices de audiência e as pessoas assistem, em geral, aquilo que é mais fácil de assistir, programas que não requerem nem um tipo de esforço intelectual e, como consequência, é isso que acaba sendo exibido. Em outras palavras, o expectador – ser humano – é preguiçoso por natureza e não entende que é o esforço que gera a evolução, física, mental, psicológica etc, e, desta forma, opta pelo mais fácil: o Luan Santana em vez de um documentário sobre Getúlio Vargas, por exemplo. 

Eram quase sete da noite de um domingo, de outubro de 2011 e meu filho, na época com seis anos, havia se estatelado à frente da TV para assistir Atlético Goianiense e Coritiba e eu precisava sair, pois queria assistir a uma peça às 8h no Teatro Municipal. Ingressos comprados. Tudo planejado.

 

“Filho, está na hora de tomar banho?”

“Não quero!”

“Eu sei filho, mas nós precisamos ir ao teatro e você está todo sujo. Você jogou futebol o dia todo.”

“Por que é que as pessoas precisam tomar banho?”

Suspirando, respondi:

“São hábitos necessários de higiene pessoal, meu filho. Você já sabe disso.”

“Mas, por que que eu preciso tomar banho, agora?

“Temos horário, meu filho. Senão, vamos atrasar.”

Cinco minutos de tentativa de convencimento e ataquei:

“Pois bem, eu estou lhe pedindo algo e você está dizendo que não vai fazer. Da próxima vez que você me pedir alguma coisa, direi que não. Está bem assim?”

Silêncio e em seguida questionamento lacônico. 

“Como é?”

“É isso mesmo. A próxima vez que você me pedir algo, vou dizer que não.”

Breve silêncio e nova pergunta:

“A próxima vez que eu lhe pedir algo você vai dizer que não?”

“É isso mesmo”, respondi sem titubear. 

“Pai, posso tomar banho?”

Segurei o riso, fiz cara de bravo e desliguei a TV o mais rápido que pude. Esse tipo de raciocínio não pode ser estragado. A propósito, nem sei quanto ficou o jogo. 

 

(*) O autor ocupa este espaço aos domingos. E-mail: [email protected] 

Recomendamos para você

Comentários

Assinar
Notificar de
guest
0 Comentários
Comentários em linha
Exibir todos os comentários
0
Queremos sua opinião! Deixe um comentário.x