“2020 deixa as cartas embaralhadas para 2022”, afirma Ney Vilela
Historiador não concorda que o centro ou o centrão tenham sido os grandes vencedores das eleições e vê dificuldades na busca de um candidato
É mais fácil definir os perdedores do que os vencedores das eleições municipais de 2020. Mais do que isso, os resultados das disputas municipais acabou embaralhando ainda mais as cartas da corrida eleitoral para 2022, quando o Brasil definirá o sucessor de Jair Bolsonaro. A reflexão é do historiador, escritor e professor Ney Vilela.
Ele afirma que é fácil falar que os grandes perdedores do pleito de 2020 foram o presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores de extrema direita. Vilela também é enfático em colocar o PT como companheiro de Bolsonaro neste revés. Porém, ao contrário dos analistas políticos da grande imprensa, que cravam a vitória do “centro” e até mesmo do “centrão” nestas eleições, Vilela afirma que é complexo se chegar a um vencedor ou mesmo vencedores da disputa.
“O PSDB, por exemplo, vai governar o maior número de brasileiros nos municípios a partir de 2021, porém perdeu várias prefeituras e encolheu em número de prefeitos. O MDB foi o que elegeu mais prefeitos de capitais, mas, por outro lado, também encolheu. O DEM, de fato, saiu maior do que entrou. Juntos, PSDB, PSD, DEM e MDB governam mais de metade dos eleitores brasileiros”, ressalta ele.
Com relação ao centrão, Vilela concorda que alguns partidos como PP e Republicanos podem ter crescido porque foram vitaminados por Bolsonaro. “Isso ocorreu num ato de desespero do presidente que viu, nesta aliança, a última chance de manter a governabilidade”, comenta Vilela. “É um apoio que ninguém garante que continuará amanhã ou mesmo depois de amanhã”.
Quanto a disputa de 2022, Vilela pondera que tanto PSDB quanto DEM pleiteam concorrer com candidaturas próprias. “Os democratas ganharam o Rio de Janeiro e também Curitiba, cidades muito importantes. Eles flertam com Luciano Huck”, comenta o historiador.
Para o historiador, o encolhimento do PT e sua hegemonia na esquerda. “Não vejo condições de o partido se recuperar. O PT está menor que o PDT, continua menor que o PSB e não tem uma liderança jovem como Guilherme Boulos do PSOL. O caminho do PT é a mediocridade”, enfatiza ele.
Segundo o historiador, apesar da radicalização de 2018, que levou ao segundo turno os extremos da direita e da esquerda – Bolsonaro e o PT, o eleitor brasileiro é conservador. “Quando optou pelo PT, o eleitor o fez não porque era progressista, mas sim pela política assistencial vinda de um populismo de esquerda e de um sistema estatista. O eleitor médio não compactuou com as propostas petistas, que, cá entre nós, eram bastante confusas. Este eleitor continua conservador e agora ele percebe que o radicalismo o xingamento não melhora a sua vida. O eleitor está se reposicionando. Quem souber atender as demandas de um eleitorado conservador sem muito berreiro e como mínimo de competência administrativa, leva. Este pessoal precisa se unir e formar uma frente. E é aí que bicho pega. Não sei se as lideranças tupiniquins de centro têm competência de encontrar um Joe Biden brasileiro”, conclui ele.