PAULO MELLO
Da redação
A revisão do Plano Diretor de São Carlos terá, nesta quarta-feira (17), uma audiência pública no distrito de Santa Eudóxia, às 18h, no salão/pátio da Igreja São Sebastião, com participação aberta à população. Em entrevista à São Carlos FM, o assessor especial do prefeito Netto Donato (PP), João Muller, disse que “todo e qualquer cidadão pode participar”, inclusive se inscrevendo para falar e apresentar “sugestões, propostas, críticas”.
Segundo Muller, a audiência marca um movimento inédito da administração municipal ao levar o debate aos distritos. “É a primeira vez que a administração pública vai até Santa Eudóxia e Água Vermelha ouvir as duas comunidades”, afirmou. Ele explicou que preparou a apresentação com levantamento de dados e imagens, incluindo consultas a bases como o IBGE. “As pessoas às vezes não entendem como é que funciona… você tem que fazer consulta, buscar imagem, buscar informações”.
O foco, em Santa Eudóxia, será a possível expansão urbana e seus limites. Muller criticou o Plano Diretor de 2016 por não prever crescimento no distrito. “O último Plano Diretor, 2016, não deixou nenhuma possibilidade de expansão urbana… alegando que era uma região de interesse paisagístico”, disse. Para ele, a realidade local exige outra leitura: “O distrito… é cercado por produção de cana-de-açúcar. Como que você não vai deixar essa possibilidade?”.
Além do tema urbanístico, o assessor citou a proposta de criação de uma Área de Interesse Ambiental (AIA) para proteger uma mata local. “Nós queremos decretar ela no Plano Diretor como Área de Interesse Ambiental, para que nunca se pense em fazer a supressão dela”, afirmou, referindo-se a uma área de cerca de dois alqueires. Muller chamou o trecho de “pulmão do distrito”, destacando a intenção de dar blindagem legal permanente.
Um terceiro ponto do encontro será o que ele chamou de “chacreamento”, com definição de zonas para condomínios de chácaras ligados ao potencial turístico e ambiental. “A gente começou a entender que… tem uma possibilidade de definir algumas zonas de expansão para chacreamento”, explicou, citando a presença de rios importantes na região, como Quilombo e Mogi Guaçu, e a ideia de atrair moradores de São Carlos e de outras cidades para uso em fins de semana e feriados.
Muller contextualizou as dificuldades históricas de crescimento do distrito, apontando distância e gargalos de acesso. “Santa Eudóxia… desde a sua fundação, tem só setecentas casas… três mil pessoas”, afirmou, lembrando que a primeira ampliação relevante teria ocorrido apenas em 1979 e citando, depois, conjuntos e ocupações regularizadas ao longo das décadas. Ele atribuiu parte do travamento à falta de emprego local e ao impacto de regras urbanísticas. “Não tem grandes demandas… porque você também não tem muito emprego naquela região”. Ainda assim, citou como exemplo a aquisição (em andamento) de uma área para viabilizar cerca de 30 a 33 unidades habitacionais, e defendeu que o Plano Diretor deixe prevista a possibilidade de novas indústrias: “Nós devemos deixar tudo isso previsto… a possibilidade inclusive de novas indústrias”.
Na entrevista, o assessor também comentou o tema da transposição do Rio Mogi, dizendo que não vê viabilidade de uma ponte pelo custo e pela lógica viária atual. “Uma ponte dessa hoje seria coisa de trinta e sete, cinquenta milhões de reais”, afirmou, sugerindo que uma alternativa poderia ser uma balsa motorizada, diante da redução do nível do rio: “O nível do Mogi é muito baixo… tem período que você fica só com o fundo”.
Com exclusividade ao Primeira Página no Ar, Muller relatou uma visita realizada na véspera [segunda-feira, 15] com o vice-prefeito Roselei Françoso (MDB) e secretários, em reuniões no DER, Artesp e na Secretaria de Parcerias e Investimentos (SPI). Ele disse que levaram três pedidos e classificou como mais urgente a duplicação no trecho conhecido como “da TAM até a entrada de São Carlos”. “Nós não podemos mais ficar sem essa duplicação”. O segundo pedido, de acordo com ele, trata de melhorias/duplicação na estrada em direção a Descalvado até a região do Santuário da Babilônia, citando acessos “em nível” e risco de acidentes. O terceiro ponto foi uma intervenção para aliviar o congestionamento na entrada de São Carlos para quem chega pela SP-318, com discussão sobre alargamento e estudos de tráfego.
Ao final, Muller respondeu a perguntas sobre aterro sanitário e cemitérios. Sobre resíduos, afirmou que o município tem contrato de PPP até 2030, sem “preocupação” no curto prazo. Já sobre sepultamentos, alertou que a capacidade atual seria de cerca de dois anos e disse que a Prefeitura discute alternativas, incluindo parceria para um novo cemitério e tratativas com a Igreja Católica para uma proposta no Santuário da Babilônia. “Se a gente encontrar nesses dois anos um parceiro, ótimo”, disse, citando ainda a possibilidade de nova ampliação do Nossa Senhora do Carmo e mencionando um projeto de cemitério vertical em área já aprovada.
Ao lado de Muller, o coornador de revisão do Plano Diretor, Agnaldo Spaziani Junior, reforçou o convite para a audiência desta quarta (17) e detalhou os próximos passos da revisão: a partir de 28 de janeiro de 2026, haverá nova audiência às 18h com público específico (setores produtivos e entidades), seguida de mais encontros em fevereiro e oficinas em março. A expectativa, segundo ele, é concluir o processo e encaminhar o texto à Câmara até maio: “Estamos trabalhando para conseguir fazer tudo isso até maio”.
Assista a entrevista na íntegra:
