Especialistas veem necessidade de projeto de mobilidade urbana
Especialistas analisam o trânsito de São Carlos mediante o crescimento da frota de veículos nos últimos dez anos. Dados do Departamento de Trânsito Estadual (Detran-SP) mostram que cidade detém atualmente 151 mil veículos circulando. Dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) revelam que perto de 600 carros entram no trânsito da cidade por mês. Esse número cresceu aproximadamente 45% nos últimos cinco anos.
Para o professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Marco Antônio Garcia Ferreira, a solução imediata e definitiva não existe, mas ações pontuais poderiam melhorar o tráfego. “A cidade precisa de um projeto urbano que leve em conta o desenvolvimento e o crescimento econômico que São Carlos passa. Não temos isso. O Plano Diretor não tem esse papel. É preciso um projeto que compreenda um plano de mobilidade urbana”, disse.
O transporte individual por automóvel já saturou a malha viária da cidade que é antiga, estreita e não tem suporte para o volume de veículos que entra a cada mês no fluxo do trânsito. “Não tem como as pessoas circularem com respeito e segurança com os transportes individuais”, avaliou Ferreira.
Soluções pontuais como mudança de mão e semáforos são paliativos que perdem a função de um mês para o outro com a chegada de novos veículos no trânsito, na análise do professor. Ele vai além: “O Plano de mobilidade urbana tem como desafio fazer com que as pessoas mudem o modo de circular integrando no seu cotidiano o transporte coletivo e o não motorizado – bicicletas, que são mais sustentáveis”.
Para programar o uso das bicicletas, cabe ao Poder Executivo finalizar as ciclovias. “O que se tem hoje na cidade são trechos que ainda não estão interligados e acabam levando o ciclista do nada para lugar nenhum É como se tivéssemos um equipamento de teletransporte ao final das faixas, que teletransportasse o ciclista para o seu destino final”, ironizou.
Outra ação pontual, explicou Ferreira, é dificultar a chegada dos carros em pontos de estrangulamento no centro da cidade. A retirada de áreas duplas de estacionamento em ruas centrais. “Só um lado seria destinado para o veículo parar e assim criaria vias mais rápidas para o fluxo. É uma medida pouco popular que afeta o comércio e o hábito adquirido de se estacionar na porta de onde se pretende ir. Mas essa já não é a realidade da cidade”.
O professor contextualiza sua opinião ao dizer que reduzir o estacionamento provocaria nas pessoas o impulso de usar transportes coletivos já que ela sabe que não terá como parar o carro. Mas isso implica diretamente em melhorar a qualidade dos ônibus para incentivar as pessoas a trocarem o uso dos carros pelo transporte público.
Para o integrante da Associação São-carlense de Ciclismo, Guto Sguissardi, se alguém tem o direito de ter um automóvel, então todos têm esse direito. “Qualquer cidade para, se todos os cidadãos utilizarem seus automóveis ao mesmo tempo”, afirmou.
A solução para essa situação, na avaliação dele, passa pela melhoria do transporte coletivo público, simultânea a restrições ao uso do transporte individual particular. “É preciso criar condições para que o automóvel seja utilizado apenas quando for necessário. Para isso é preciso criar regiões onde seja proibida a circulação de veículos automotores, dando prioridade aos deslocamentos a pé e de bicicleta”.