Partidos do Centrão dominam resultados das urnas 2020
Apuração confirma derrocada do PT e alerta presidente Bolsonaro
Ao concluir os resultados das urnas relacionadas com as eleições municipais de 2020, o eleitorado brasileiro deixou um recado bastante claro: não irá tolerar teorias da conspiração, brigas ideológicas toscas ou firulas públicas que levam o nada ao lugar nenhum. Neste momento de pandemia e muito desemprego, a população prefere um gestor mais centrado, sem declarações exageradas e que busque a devida solução para os problemas crônicos do dia a dia. Ainda que este escrutínio não possa ser considerado uma antecipação do que vai se dar no confronto presidencial, já ficou muito evidente que estamos diante da rejeição a um estilo e a um modo de fazer política.
Colocadas no espectro mais à direita, as legendas PP, PSD, DEM, PL e Republicanos apresentaram um acréscimo expressivo no número de prefeitos eleitos, sendo que o DEM foi a sigla que mais cresceu em números absolutos na comparação com o pleito anterior. O número de prefeituras pulou de 266 para 464 equivalendo a um aumento de 75%. Desse total, 4 prefeitos são de capitais. “Na minha opinião o grande destaque das urnas foi o crescimento do DEM e de outros partidos que participam do famoso Centrão”, analisa o cientista político graduado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Ivan Ervolino.
Mesmo encolhendo 251prefeituras, o MDB continua liderando o ranking de eleitos com 784. Considerando a variação percentual, as legendas que mais cresceram foram Avante (583%), Patriota (277%), Podemos (252%) e PSL (200%). Por outro lado, as maiores baixas ficaram com siglas que conquistaram apenas uma única prefeitura indicando PTC (-94%), DC (-88%) e PMB (-67%). Além do MDB, os partidos que mais perderam prefeituras foram PSDB (-265) e PSB (-151). O tucanato havia aumentado a quantidade de prefeituras em 2016, ano que ocorreu o impeachment de Dilma Rousseff (PT). Na época elegeu 785 prefeitos reduzindo para 520 neste ano.
Novo vermelho
O PT apresentou uma péssima performance eleitoral não conquistando nenhuma capital. Em 2012, o PT conseguiu 630 prefeitos e em 2016, esse número foi de 254 (uma queda de 60% em comparação com 2012), sendo que agora são 183 prefeituras (redução de 28% em comparação com 2016). Este levantamento não considera os candidatos a prefeito “sub judice”, que aguardam julgamento da Justiça Eleitoral. Houve 102 disputas nesta situação no 1º turno e duas no 2º turno. Além dos resquícios da Operação Lava Jato, outro empecilho para os petistas foi o crescimento visível de outros setores da esquerda, como o PSOL e PCdoB, que chegaram a disputar o segundo turno em duas capitais importantes como São Paulo e Porto Alegre, respectivamente. “A derrocada do PT e a exposição do PSOL foram pontos acima da curva”, enfatiza o cientista da UFSCar. “O Boulos conquistou uma expressiva votação que o credencia como forte liderança pra 2022”, complementa.
Reeleição em apuros?
Sem dúvida, o cuidado com a pandemia favoreceu um debate mais programático garantindo a reeleição de 80% dos prefeitos. Este cenário não foi favorável ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que ficou sem um discurso unificado. Outro ponto negativo foi a dispersão de seu apoio entre candidatos de vários partidos enfraquecendo a sua marca. Porém, a pauta de negação política continua muito forte registrando uma altíssima abstenção e quantidade enorme de votos brancos e nulos. Em 2022, o fator ideológico entre a direita conservadora cristã e a esquerda progressista social deve retornar ao centro do debate proporcionando total condição para o presidente ganhar uma vaga no segundo turno. “Mesmo sem a grife Bolsonaro, o PSL triplicou o número de prefeituras”, observa Ervolino.