Azuaite Martins de França*
Nesta última sexta-feira foi celebrada a missa de sétimo dia da professora Silvaneide Monteiro Andrade. No silêncio da cerimônia, uma pergunta ecoa, dolorosa e necessária: quem a matou?
Silvaneide tinha 56 anos e lecionava no Colégio Cívico-Miltar Jayme Canet, em Curitiba. Na última sexta-feira, 30 de maio de 2025, teve sua aula interrompida para atender a uma convocação da equipe pedagógica. O motivo? Não havia alcançado as famigeradas notas exigidas pela “plataforma da redação”.
Enquanto os alunos aguardavam seu retorno à sala de aula, Silvaneide passou por tamanha pressão e constrangimento que, ali mesmo, sofreu um infarto e morreu. Com ela, morreram seus sonhos, sua dedicação e a esperança de tantos alunos que a admiravam.
Dizem que foi um infarto fulminante. Mas, na verdade, Silvaneide foi vítima de um sistema cruel, da pedagogia do medo que impõe metas inatingíveis, humilha profissionais, terceiriza a gestão escolar e adoece a alma da Educação. Não é exagero: pesquisas mostram que 72% dos professores da rede estadual do Paraná estão doentes. Outros tantos, silenciados pela dor, desistem — ou são empurrados ao limite.
Essa pedagogia do medo não nasceu por acaso. Ela tem nome, sobrenome e endereço: é obra de tecnocratas que tratam a Educação como laboratório de experiências autoritárias, guiados por interesses nebulosos. No caso do Paraná, o projeto é liderado por Renato Feder — o mesmo que hoje comanda a Secretaria da Educação em São Paulo. Ou seja, o que já destrói vidas no Paraná é prenúncio do que se consolida também em São Paulo.
A morte da professora Silvaneide não é um fato isolado. É símbolo de uma realidade que se repete, se agrava e se institucionaliza. Por isso, volto à pergunta incômoda, que não pode ser esquecida:
Quem matou a professora Silvaneide?
Quem puxa o gatilho moral dessas mortes silenciosas?
Quem fiscaliza os que dizem estar zelando pela qualidade da Educação, mas esmagam seus profissionais?
Quem, afinal, está matando a escola pública brasileira?
Enquanto não respondermos com coragem a essas perguntas, seguiremos perdendo não apenas professores — mas o próprio futuro da Educação
*Professor Azuaite Martins de França é Vice Presidente do Centro do Professorado Paulista