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Semeando educação, cidadania e solidariedade

'Usei o momento para compartilhar reflexões sobre o tempo presente e o futuro que vislumbro para nossa sociedade'

18/12/2024 18h41 - Atualizado há 41 minutos Publicado por: Redação
Semeando educação, cidadania e solidariedade

Azuaite Martins de França*

No último dia 17, encerrei minha participação em sessões ordinárias na Câmara Municipal, marcando o fim de uma jornada de 34 anos como vereador. Usei o momento para compartilhar reflexões sobre o tempo presente e o futuro que vislumbro para nossa sociedade.

Dizia Darcy Ribeiro, figura que admiro profundamente por sua luta pela liberdade e justiça no Brasil: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.”

Essa frase ecoa profundamente em minha trajetória. Recentemente, também fracassei em uma iniciativa que me era cara: a criação de um espaço infantil e educacional para acolher crianças pequenas, filhas de mães que estudam ou trabalham à noite e não têm onde deixá-las. Apesar do revés, plantei a semente. Talvez, em outro momento, o solo esteja mais fértil. Assim como aqueles que plantam tamareiras, sem a expectativa de colher os frutos, sigo na esperança de que um dia eles virão.

Outro projeto recente apresentado busca incluir livros na cesta básica destinada às famílias de baixa renda. Como bem cantaram os Titãs: “A gente não quer só comida, quer comida, diversão e arte”. Acredito que o livro é alimento para a alma e que a lei mais poderosa em qualquer sociedade deve ser a da leitura. Ulisses Guimarães, ao promulgar a Constituição de 1988, afirmou: “A cidadania começa pelo alfabeto”. Essa é também minha crença: sem educação, não há cidadania, e sem cidadania, não há progresso.

Neste contexto, vejo como essencial o debate em torno da escola, especialmente no cenário atual, onde emergem questões como a implantação de escolas cívico-militares. Embora respeite as forças de segurança, considero que o papel da escola deve ser, sobretudo, o de formar cidadãos críticos e livres, capazes de construir uma sociedade verdadeiramente democrática. Não basta termos governos democráticos; é essencial que a sociedade como um todo seja democrática.

A solidariedade foi e continua sendo o alicerce que nos trouxe até aqui. O respeito é a base dessa solidariedade. E aqueles que ocupam cargos públicos devem ser os primeiros a dar o exemplo, respeitando todas as pessoas, independentemente de sua origem, idade, gênero, cor ou orientação sexual.

Uma sociedade civilizada só é possível com educação plena e acessível. Quando educamos, ensinamos as pessoas a pensar. E quem pensa, escolhe com sabedoria, respeita e sabe trilhar os caminhos necessários para o bem-estar coletivo. Essa é a missão que precisamos abraçar como indivíduos, cidadãos e representantes.

Enquanto encerro este ciclo na vida pública, reitero meu compromisso com essas ideias e valores. Não é o fim de uma jornada, mas a continuidade de uma causa que transcende mandatos: construir uma cidade, um país e uma humanidade melhores, onde a educação seja o farol que guia nosso caminho.

Por tudo isso, encerro com gratidão por tudo o que vivi e esperança no que virá. Que sigamos plantando tamareiras e semeando livros. O futuro nos agradecerá.

*Azuaite Martins de França, vereador na Legislatura 2021-2004, é vice presidente do Centro do Professorado Paulista.

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