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Divórcios, a saúde mental e as novas formas de se relacionar

Reprodução/CNJ

De acordo com o IBGE (2024), o número de divórcios vem crescendo gradualmente a partir de 2021. Sendo que em 2023 houve o maior índice de registros desde 2007.

Isto demonstra como os relacionamentos, mais especificamente, o casamento, tem tido uma mudança estrutural e de significado para as relações psíquicas e afetivas. Implicando que casar não necessariamente precisa ser um objetivo para vida toda ou um sinônimo de sucesso social para as novas gerações.

Segundo o Jornal da USP (2025), alguns fatores vêm contribuindo para o aumento dos divórcios: menor burocracia legal, existência de leis de proteção em casos de violência, independência econômica das partes e possibilidade de acesso ao apoio psicológico para enfrentar todo o processo.

A mudança na dinâmica econômica daqueles nascidos a partir dos anos de 1980 criou um impacto na forma de se relacionar amorosamente. Isso porque o amor romântico, e como era representado, tinha um componente de controle e manutenção de bens. E quem não atendia a esse objetivo, não servia para a sociedade.

Por isto, historicamente, muitos dos que não cumpriam a demanda social do casamento eram enviados aos manicômios, por exemplo. E, mesmo os que não eram, viravam alvo do estigma social de ser os “sozinhos”, “que ficaram pra alguém cuidar”, ou seriam os que tinham algum “problema”.

Ambas as situações de que resultaram diretamente em impactos reais e duradouros na saúde mental destas pessoas ainda hoje. Seja dos internos dos manicômios que sofreram abusos e torturas. Ou daqueles que foram excluídos e estigmatizados, sempre relegados a serem menos do que os pares.

Com as mudanças econômicas e sociais das últimas décadas, criaram-se novas formas de relacionamento, identidade e autovalor. O objetivo agora é de independência. Tanto para que se busque uma melhor relação consigo (não só com os outros), quanto para que se entenda quem se é em frente a um mundo em constante mudança. Além de se entender como conviver de modo saudável neste.

Tudo isto pode gerar uma impressão de isolamento ou de egoísmo nas relações. Mas o que acontece, na verdade, é que há menos sacrifício ao custo de si mesmo.

Não é sobre um terrorismo de que “ninguém pode mais casar” ou de que o “casamento está falido”. Pelo contrário, relações duradouras, independente do modelo, ainda dizem sobre a capacidade de alguém de ser íntimo, verdadeiro e afetuoso com o próximo.

A proposta, na verdade, é de ter um olhar para si e por si. É da busca por saúde mental contextualizada e completa. E que atenda aos desejos reais da pessoa, não as pressões sociais. Para que as relações aconteçam no momento que se estiver saudável e com a disponibilidade para tal.

Pensando nessa nova abordagem de relacionamento consigo mesmo e com o próximo, a psicoterapia é um local muito importante. Pois, permite lidar com a pressão social, exclusão, medo, abandono e estigmas associados a esses novos modos de se relacionar ou de escolher terminar relações para preservar a si.

 

Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)

Psicanalista especializado em gênero e sexualidade

Redes: @psicologo_matheuswada

WhatsApp: (16) 99629 – 6663

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