Procurador vira réu por vazar informações da Greenfield para Joesley
O Tribunal Regional Federal da 1ª
Região (TRF-1) aceitou denúncia do Ministério Público Federal
contra o procurador da República Ângelo Goulart Villella pelos
crimes de corrupção passiva, violação de sigilo funcional,
lavagem de dinheiro e obstrução de investigação.
De
acordo com a Procuradoria, Ângelo Villella teria aceito promessa de
pagamento de propinas para repassar informações sigilosas da
Operação Greenfield para Joesley Batista, dono do Grupo J&F. A
decisão foi dada na última quinta-feira, 5, pela Corte Especial do
TRF-1. O caso ficou sob a relatoria do desembargador Marcos Augusto
de Souza.
A delação
premiada de Joesley serviu como base para a denúncia. As condutas
irregulares foram depois comprovadas por meio de documentos,
gravações e ações controladas, informou a Procuradoria.
Além
do executivo da J&F e do procurador, a acusação abarca ainda
outras quatro pessoas: os advogados Willer Tomaz de Souza, Francisco
de Assis e Silva e Juliano Ricardo de Vasconcellos Costa Couto, e o
publicitário André Gustavo Vieira da Silva. Como tais denunciados
não tem foro privilegiado, serão julgados pela Justiça Federal do
Distrito Federal.
Segundo
os procuradores, Ângelo Villella teria aceitado diferentes propinas
para contar os detalhes da Greenfield a Joesley. A operação foi
deflagrada em setembro de 2016 para investigar um esquema de
corrupção nos Fundos de Pensão da Caixa, da Petrobras, do Banco do
Brasil e dos Correios – Funcef, Petros, Previ e Postalis – que,
segundo os investigadores, pode ter causado um prejuízo de R$ 8
bilhões.
Foi nesse
contexto que Villella teria, segundo os procuradores, revelado fatos
que estavam sob sigilo, além de ter embaraçado duas investigações
da Greenfield e da Lava Jato.
Segundo
a denúncia, o procurador supostamente repassou a Joesley, por
intermédio do advogado também denunciado Willer Tomaz, a gravação
de uma reunião da força-tarefa Greenfield. Na ocasião foi
discutida a possibilidade de celebração de um acordo de colaboração
premiada com Mário Celso Lopes.
Ao
lado de Joesley, o executivo era um dos sócios da Eldorado Brasil
Celulose, que faz parte do grupo J&F. A empresa, investigada pela
Greenfield, teria sido beneficiada pelas fraudes nos fundos de pensão
das estatais.
Ângelo
Villella também teria informado a Willer sobre uma reunião entre
advogados da J&F e a Procuradoria-Geral da República que tratou
de um acordo de colaboração no âmbito da investigação da Lava
Jato sobre o Quadrilhão do MDB no Senado.
A
denúncia aponta ainda o repasse de resumos, informações e
estratégias confidenciais da Greenfield, que haviam sido
disponibilizadas apenas aos membros da Força-Tarefa em um grupo de
Telegram.
Em
contrapartida às informações, o procurador teria aceitado o
pagamento de R$ 1,25 milhão repassado por meio do escritório de
advocacia de Willer Tomaz. O valor seria referente a um terço dos R$
3,7 milhões que foram pagos pela Eldorado Brasil Celulose ao
advogado e daí a acusação por lavagem de dinheiro.
Os
procuradores indicam ainda que Villella teria aceitado a proposta de
Joesley para receber uma mesada de R$ 50 mil para “ajuda de
custo”, além de um porcentual de êxito na redução dos
valores de avaliação das ações da empresa Eldorado Brasil
Celulose no âmbito da Greenfield.
Defesas
– A reportagem busca contato com o
procurador Ângelo Goulart Villella e com os outros citados. O espaço
está aberto para as manifestações de defesa.