Olavo de Carvalho mente que não há mortes por coronavírus
“Guru” do bolsonarismo, o escritor Olavo de
Carvalho divulgou informações falsas e inseriu a pandemia de coronavírus numa
teoria conspiratória em uma transmissão ao vivo no Youtube no domingo, 22, para
o canal do site Brasil Sem Medo.
Na transmissão, ele afirma que não há nenhum caso confirmado de morte por
coronavírus no mundo – uma mentira – e que a pandemia, em sua opinião, seria
“a mais vasta manipulação de opinião pública que já aconteceu na história
humana”.
Só no Brasil foram registradas 25 mortes de acordo com o Ministério da Saúde do
governo de Jair Bolsonaro e são 1.546 casos confirmados da doença. De acordo
com a Organização Mundial da Saúde (OMS), são mais de 294 mil casos no mundo e
mais de 12.784 mortes.
O vídeo do qual Olavo participa não aparece mais no canal do Brasil Sem Medo,
mas está disponível em outras contas, como na de um usuário identificado como
“Leandro luiz de souza”, divulgada pelo próprio Olavo em seu
Facebook.
“Você não tem um único caso confirmado de morte por coronavírus”,
mentiu Olavo. “Para confirmar, você precisa fazer o exame de cada órgão do
falecido, e onde que fizeram isso? Nunca fizeram nenhum. É a mais vasta
manipulação de opinião pública que já aconteceu na história humana. Parece
coisa de ficção científica. A experiência de 72 anos de vida me mostra que em
geral a verdade é inverossível. O que as pessoas esperam que aconteça não
acontece e o que acontece é o que elas não esperavam, então elas não acreditam
que está acontecendo.”
O Ministério da Saúde detalha em seu site oficial as definições operacionais
para a saúde pública sobre como tratar casos como suspeitos, prováveis ou
confirmados de coronavírus no País, além de expor o procedimento para
confirmação de um caso.
“O diagnóstico é feito com a coleta de materiais respiratórios (aspiração
de vias aéreas ou indução de escarro)”, informa a pasta. “É
necessária a coleta de duas amostras na suspeita. Para confirmar a doença é necessário realizar
exames de biologia molecular que detecte o RNA viral. O diagnóstico do
coronavírus é feito com a coleta de amostra, que está indicada sempre que
ocorrer a identificação de caso suspeito.”
Olavo associa o coronavírus à gripe comum. Ainda no início do mês, o Estado
publicou uma matéria do The New York Times sobre comparações entre as duas
doenças e mostrou que, em média, as cepas sazonais de gripe matam cerca de 0,1%
das pessoas infectadas. A gripe de 1918 teve uma taxa de mortalidade
excepcionalmente alta, em torno de 2%. Por ser muito contagiosa, essa gripe
matou dezenas de milhões de pessoas. As primeiras estimativas da taxa de
mortalidade do coronavírus em Wuhan, China, o epicentro do surto, giraram em
torno de 2%, e relatórios seguintes chegaram a 1,4%.
No Facebook, Olavo tem compartilhado links com críticas à China e à Rússia e,
na live, disse ver a pandemia de coronavírus como parte do que chama de
“esquema russo-chinês”. Ele se fundamenta na divulgação – que de fato
aconteceu – de um documento da União Europeia analisado pela Reuters em que a
mídia russa é acusada de divulgar fake news sobre o coronavírus. “A onda
de pânico veio de Moscou”, disse Olavo.
A Rússia negou as acusações do documento divulgado pela Reuters. O documento é
datado de 16 de março e foi produzido pelo Serviço Europeu de Ação Externa, um
braço da política externa da União Europeia. De acordo com o texto, a campanha
“posta em prática pela mídia estatal russa e pró-Kremlin sobre o
Covid-19” já está em curso.
“O objetivo principal da desinformação do Kremlin é agravar a crise da
saúde pública nos países ocidentais … de acordo com a estratégia mais ampla
do Kremlin de tentar subverter as sociedades europeias”, diz.