Grupos e instituições culturais colocam seus acervos na internet
Conhecer manifestações
populares como o frevo, o reisado e o boi-bumbá. Assistir a um concerto da
Osesp na Sala São Paulo. Entrar em contato com o dia a dia de bailarinos de
consagradas companhias de dança – e (re)ver seus espetáculos. Tudo sem sair de
casa. Essas são possibilidades que ganharam força nas últimas semanas, quando
grupos e instituições culturais intensificaram a publicação de conteúdo online,
com acesso gratuito.
Um exemplo é o Brincante, comandado pelo casal
de artistas Antonio Nóbrega e Rosane Almeida. Em seu canal do Youtube (bit
ly/brincanteemcasa), o instituto vem publicando uma série intitulada Danças
Brasileiras, com mais de 20 vídeos. Originalmente lançado como documentário,
sob direção de Belisario Franca, o material é resultado de uma expedição que
Nóbrega e Rosane fizeram por diversos estados para retratar tradições populares
ligadas à música e à dança, como cavalo marinho, capoeira, maracatu rural, coco
e frevo.
“O momento que estamos vivendo solicita
tanto introspecção quanto diversão. Introspecção pela necessidade que temos de
refletir sobre o que estamos passando, e diversão porque o estado de
confinamento solicita um bálsamo, um recreio para o espírito”, reflete
Nóbrega.
O multiartista pernambucano também acaba de
tornar disponível, para consulta online, sua coleção de literatura de cordel,
com cerca de 5 mil itens acumulados desde os anos 1970. Boa opção para os
tempos de reclusão, o site (acervoantonionobrega.com.br) traz mais de 300
livretos de domínio público, que podem ser lidos na íntegra. Um exemplo é a
Peleja de Manoel Riachão com o Diabo, com versos escritos, em 1957, por Leandro
Gomes de Barros, em Juazeiro do Norte (CE).
Outras preciosidades que podem ser vistas pela
internet são espetáculos do Grupo Corpo. A companhia mineira tem divulgado, de
forma gratuita, duas diferentes coreografias por semana. Basta acessar o site
Vimeo (vimeo.com/grupocorpo), selecionar uma delas, clicar em
“alugar”, fazer o login e, na hora do pagamento, inserir o código
promocional: grupocorpo45anos (ele é suficiente para garantir o acesso sem
custos; nunca insira o número do cartão de crédito).
Nesta semana (de 30/3 a 5/4), estão em cartaz
Parabelo, uma criação de 1997, e Triz, que estreou em 2013. “Parabelo é
uma das mais brilhantes joias do nosso repertório, com música de José Miguel
Wisnik e Tom Zé; uma das peças mais requisitadas mundo afora. E Triz é a
segunda colaboração de Lenine para o Grupo”, comenta o coreógrafo Rodrigo
Pederneiras.
A São Paulo Companhia de Dança também tem
publicado vídeos com espetáculos de seu repertório – que ficam no ar por 15
dias. Em seu canal oficial (bit.ly/memoria_spcd), está disponível, até 10/4, La
Sylphide, criada por Mario Galizzi a partir de montagem que August Bournonville
fez, em 1836, para o Balé Real da Dinamarca. A obra é “um clássico
incontornável do balé romântico”, segundo a diretora artística da
companhia, Inês Bogéa. “Com história inspirada em um conto de fadas,
agrada de crianças a adultos, ou seja, é ideal para este momento em que as
famílias estão em casa.”
A programação, que ocupa todas as redes sociais
(#SPCDdigital), inclui vídeos em que bailarinos mostram a rotina de ensaios e
exercícios, a partir de suas casas, e até um podcast com contação de história
para crianças – no dia 3/4, tem O Lago dos Cisnes.
Os fãs de música clássica também podem assistir
a concertos na íntegra da Osesp, gravados na Sala São Paulo. No YouTube (bit
ly/acervoosesp), haverá novos vídeos sempre às terças e quintas-feiras e aos
sábados. Já está disponível, por exemplo, a Sinfonia Novo Mundo, de Antonín
Dvorák, em apresentação de 2016 comandada pelo maestro suíço Thierry Fischer.
Por lá, também é possível assistir a séries como
Instrumentos de Orquestra, em que músicos apresentam o oboé, a harpa e tantos
outros. “São maneiras de manter a orquestra presente e ativa, cumprindo
seu papel de inspirar o público”, avalia o diretor artístico Arthur
Nestrovski.
O Projeto Guri, que ensina música a crianças e
jovens, também tem espetáculos online, como uma releitura de O Grande Circo
Místico, de Chico Buarque e Edu Lobo, com uma camerata de violões
(bit.ly/guricirco). Outra opção são as animações produzidas pelo projeto em
parceria com o De Criança para Criança, que têm trilha sonora, narração e
desenhos feitos por crianças (bit.ly/guridecrianca). Uma delas fala sobre a
preguiça, sentimento representado por um bicho-preguiça que “anda
arrastando o chinelo bem devagar”.