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Edson Ferraz e Ângelo Félix detalham projeto pioneiro de atenção integral às pessoas com obesidade

Foto: Paulo Mello / São Carlos FM

PAULO MELLO
São Carlos FM

Em entrevista marcada por debates profundos no Primeira Página no Ar, da São Carlos FM 107,9, na manhã desta quinta-feira (11), o vereador Edson Ferraz (MDB) e o cantor, músico, radialista e estudante de Direito, Ângelo Félix, apresentaram detalhes da recém-aprovada Política Municipal de Atenção Integral às Pessoas com Obesidade, instituída pelo Projeto de Lei nº 420/2025. A proposta, sancionada em 26 de novembro, tem base em experiência pessoal de Ângelo — que já chegou a pesar 226 kg — e na constatação de que São Carlos não possui estrutura mínima para atender pacientes obesos em situações simples, como exames ou locomoção.

A conversa escancarou dificuldades enfrentadas por pessoas com obesidade mórbida, a ausência de equipamentos compatíveis nas unidades de saúde, a falta de preparo profissional para cuidados básicos e a urgência de políticas públicas que tratem a obesidade como questão de saúde complexa — física, psicológica e social.

Ângelo relatou o episódio que motivou o projeto: um acidente doméstico que rompeu o ligamento do joelho em 2022. Com 226 kg, não encontrou cadeira de rodas compatível, cadeira de banho, nem maca que suportasse seu peso. “Demorei quase 50 dias para conseguir fazer um raio-X. Em São Carlos não há equipamentos adequados para pessoas acima de 150 kg. Exame de ultrassom hepático, por exemplo, só em Araraquara. Foi aí que percebi: alguém precisa fazer alguma coisa”, disse.

A sensibilização levou Edson Ferraz a convidá-lo para construir juntos o projeto, que passou por estudos, pareceres técnicos e recebeu aprovação unânime dos 21 vereadores.

O vereador detalhou que a lei é abrangente e se baseia em três pilares: identificação, acompanhamento e acolhimento. Entre os principais pontos: cadastro qualificado de pessoas com obesidade na rede municipal, com prioridade para casos graves; adequação de UPAs, UBSs e unidades hospitalares com macas, cadeiras de rodas, mesas de exames e equipamentos compatíveis; protocolos de atendimento multiprofissional, envolvendo médicos, psicólogos, nutrólogos, fisioterapeutas, educadores físicos e terapeutas; parcerias com FESC, UFSCar, USP e entidades especializadas, ampliando espaços, piscinas terapêuticas, salas de atendimento e avaliação física; ações educativas contra gordofobia e pela inclusão no trabalho, comércio e espaços públicos; e programas de alimentação saudável nas escolas, prevenindo casos já observados em crianças de 6 a 12 anos.

Edson enfatizou que cirurgia bariátrica não é o foco da lei, mas sim o último recurso. “Nós queremos atuação antes da bariátrica. É psicológico, social, envolve rotina, cuidados e acompanhamento. Não é só peso: é vida”, afirmou.

Desafios

Embora a lei já esteja sancionada, a pergunta feita no estúdio — “quem vai fiscalizar?” — gerou debate. Edson reconheceu que a eficácia depende de vontade política do Executivo. “A lei existe. Agora é transformar em prática. Se houver omissão, a própria população pode judicializar. Quem fiscaliza são os obesos e seus familiares.”

O vereador afirmou que enviará a política para câmaras de todo o Estado, para inspirar legislações semelhantes. Ângelo completou, cobrando mudança de postura da sociedade. “Ficar só reclamando nas redes sociais não resolve. É dever do cidadão cobrar e participar. Fizemos uma lei porque fomos atrás.”

Ambos ressaltaram que a obesidade não é apenas questão médica: envolve preconceito, dificuldade de locomoção e barreiras invisíveis no trabalho, restaurantes e serviços. Exemplos citados: cadeiras inadequadas em bares e consultórios; piadas e humilhações em espaços públicos; e empresários que descartam candidatos obesos por “prováveis problemas”. “É estrutural. O obeso é visto como incapaz antes de qualquer avaliação”, disse Ângelo.

O tom final da entrevista reforçou o compromisso com a regulamentação efetiva da política de obesidade. “A lei já existe. Agora, precisamos garantir que se cumpra. Não é um favor — é direito. E é dever do Poder Público e da sociedade dar condições dignas a quem convive com a obesidade”, concluiu Ângelo.

Edson Ferraz completou. “Se conseguirmos mudar a vida de uma pessoa que seja, já terá valido a pena.”

Assista a entrevista completa:

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