Telas, necessidade ou vício?
O uso das telas permite que possamos nos relacionar com o outro de um modo mais leve e descompromissado
Ver a vida através de uma tela tem se tornado cada vez mais comum. Seja quando assistimos à TV, quando usamos o computador para trabalho, ou estamos no celular. Mas, por que passamos tanto tempo olhando pro mundo através de uma tela?
Não é estranha a situação de uma pessoa que vai a um show e tem o show gravado, pois o viu através da tela do celular. Alguém que, antes de conseguir comer, precisa assistir a algo. O indivíduo que, para poder ir ao banheiro, precisa levar o celular “para se distrair”. Ou quem troca o sono por “só mais um vídeo”.
O sociólogo Zygmunt Bauman, ao falar sobre a “liquidez” das nossas relações e visões, discorre sobre como passamos a considerar e aceitar que tudo seja passageiro. Isso para que nossos afetos possam se enquadrar no momento em que vivemos. Como resultado, há um aumento da sensação de insegurança.
Essa insegurança explica o medo e dificuldade que nós enfrentamos ao ter que lidar com uma realidade que não está no mesmo passo do nosso desejo, ou que não corresponde às nossas expectativas. E esse modelo de relações também é um dos colaboradores para o surgimento de patologias como a Nomofobia (medo de ficar sem celular), FOMO (ansiedade gerada por não estar conectado as redes a todo momento), ansiedade e Burnout.
O uso das telas permite que possamos nos relacionar com o outro de um modo mais leve e descompromissado, porém o que acaba surgindo são relações rasas e pessoas que estão cada vez mais isoladas em mares de estranhos. Porque não costumam ser relações reais, mas sim tampões para ansiedade e solidão.
Gera-se aí um ciclo. Se eu fico cada vez mais sozinho e isolado, então tento me distrair desses pensamentos negativos recorrendo às telas, nas quais posso ver pessoas que não demandam minha energia, que estão sempre felizes e sempre dispostas a responder as minhas demandas de atenção.
Ah, além disso, pesquisas demonstram os problemas físicos e de desenvolvimento associado ao uso de telas. Em crianças, o uso exagerado de telas pode levar a um atraso no desenvolvimento social, de fala e escolar. Para pessoas de todas as idades, o seu uso desmoderado tem impacto negativo na visão, na atenção e no ciclo de sono.
Pensando em tudo isso, fica claro que enfrentamos um vício que vem se alastrando sem que as pessoas percebam. Afinal, “é comum todo mundo ficar no celular”. Mas, assim como outros vícios, quando o uso das telas passa do que pode ser controlado e começa a nos controlar, é preciso um grau de atenção. Nesses casos é indispensável a intervenção de um psicólogo para ajudar a pessoa a lidar com suas questões.
Psicólogo formado pela PUC-Campinas.
Psicanalista pós-graduado pela Mackenzie-SP.
Especializado em Psicanálise, Gênero e Sexualidade pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Matheus Wada Santos
CRP 06/168009
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