Traição ou controle exagerado? As angústias de um relacionamento moderno
Todo conteúdo de informações e imagens são de responsabilidade do colunista
Há um novo termo se popularizando na internet, que é o de “micro traições”. E de acordo com a revista Psychology Today (revista estado-unidense de psicologia), a expressão se refere a “pequenos atos de traição percebidos em um relacionamento, mas que não ultrapassam o limite para um caso apropriadamente físico”.
E, como não houve a traição propriamente dita, mas sim uma “percepção” desta, quem dá o veredito do que realmente ocorre é aquele se sente traído. Costumeiramente, junto a um tribunal de comentadores da internet.
Assim, alguns dos comportamentos descritos em “trends” (assuntos destaque) de internet ou de plataformas como o TikTok ou Instagram, são: deletar conversas por qualquer motivo que seja; não permitir que o parceiro tenha acesso total a sua privacidade; enviar mensagens a alguém e não contar tudo sobre ao parceiro; manter contato com algum ex-parceiro; reclamar sobre o parceiro; ser afetivo com pessoas que não o parceiro; não anunciar seu status de relacionamento abertamente; e olhar fotos de alguém que ache atraente.
No entanto, ao ler essa lista, abrem-se os questionamentos: estas pessoas estão realmente percebendo traições? Ou na verdade elas estão em uma lógica sintomática de querer possuir o parceiro? Elas não estão querendo controlar todos os comportamentos do outro? Esse controle é obsessivo?
Sabe-se que tudo está mais acessível, desde o flerte até o rastreamento em tempo real pelos celulares. O que inclui a possibilidade de aplacar as angústias. No caso, as de se “poder ser traído a qualquer momento”.
E se faz essa autotranquilização com novas formas de controle e comportamentos obsessivos: os de querer saber tudo sobre o outro; e de controlá-lo.
Ou seja, há uma angústia de não saber se o outro é 100% confiável. Mas, isso porque, a própria pessoa não confia em si e não suporta suas inseguranças. Então, ela fantasia de uma forma ansiosa, com pequenos recortes de realidade que qualquer comportamento do parceiro é uma traição.
Esse modo ciumento de funcionar é bem sintomático, fazendo mal para quem o reproduz e para o relacionamento como um todo porque, quando se fala sobre ciúmes, se fala sobre não suportar os afetos do outro.
Isso, pois, nos ciúmes, a pessoa quer ocupar a mente da pessoa amada de uma forma psicótica. Projetando as próprias inseguranças no parceiro.
Porém, ao se perceber que essa outra pessoa não atende a todos os desejos da pessoa ciumenta (o que na realidade é impossível), o indivíduo recorre aos mecanismos psíquicos de defesa, como: comportamentos agressivos, de controle, de sabotagem de autoestima, discussões, desconfiança, ansiedade, paranoia e até agressões.
Entra aí o papel da terapia. Com o auxílio de um psicólogo é possível: identificar o que realmente são traições e o que são situações de controle obsessivo; enfrentar os medos e frustrações que levam aos medos ansiosos; identificar o ciúme e elaborá-lo; ter relacionamentos mais saudáveis; e ter uma visão abrangente e completa das situações reais que se está vivendo, assim resultando numa melhor saúde mental.
Psicólogo Matheus Wada Santos (CRP 06/168009)
Psicanalista especializado em gênero e sexualidade
Redes: @psi_matheuswada
Telefone: (16)99629-6663
Email: [email protected]