Impasse marca cúpula do clima
No
último sábado, 14, um dia após o encerramento oficial da Conferência das Partes
da Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP25, realizada
em Madri, na Espanha, os 196 países participantes ainda não conseguiram chegar
a um acordo sobre os pontos mais delicados das negociações. As tratativas
prosseguem, mas já se trabalha com a hipótese de adiar decisões importantes
para a COP26, que acontecerá entre 9 e 19 de novembro, em Glasgow, na Escócia.
O documento submetido na manhã de ontem pelo
Chile, presidente da COP25 – que deveria ter acontecido em Santiago -, é
bastante vago, segundo fontes ligadas às negociações, e não traz decisões sobre
os três principais entraves das tratativas: as “ambições ambientais”
dos países ricos para redução de emissões de gases do efeito estufa, regras
para o mercado de créditos de carbono e os mecanismos de ajuda para nações
vulneráveis.
Os países signatários do Acordo de Paris sobre o
clima já haviam assumido compromissos individuais para reduzir suas emissões de
poluentes, mas estudos recentes mostram que o mundo está longe de cumprir o
objetivo de limitar o aquecimento global neste século a 2ºC acima dos níveis
pré-industriais – o tratado de 2015 também pede esforços para que o aumento da
temperatura média do planeta não seja superior a 1,5ºC.
Os países vulneráveis pedem garantias de que os
novos compromissos sejam formalizados até outubro de 2020, dando tempo para a
preparação de um relatório para a COP26 que determinará se as medidas serão
suficientes para cumprir as metas do Acordo de Paris. Até o momento, apenas 73
nações definiram seus novos objetivos, e outras 11 iniciaram o processo.
“Os governos não parecem capazes de
fornecer compromissos e respostas concretas para enfrentar a emergência
climática, apesar da mobilização de milhões de pessoas ao redor do mundo”,
disse a associação ambientalista italiana Legambiente. Já a ONG WWF afirmou que
o relatório apresentado pela presidência chilena é “extremamente fraco e
chocante, sobretudo no que diz respeito às ambições”. “Estamos em uma
crise climática, e as referências à melhoria dos compromissos nacionais são
desesperadamente necessárias, porém foram praticamente eliminadas”,
acrescentou a chefe da delegação da entidade na COP25, Vanessa Perez-Cirera.
Segundo a presidência chilena, um novo texto seria submetido às partes ainda
neste sábado. Não havia resultado concreto a respeito até o fechamento desta
edição.
Preocupação – Diante do impasse na obtenção de resultados concretos,
aumenta a preocupação de especialistas. “Em um momento em que os
cientistas se alinham para alertar sobre consequências terríveis se as emissões
continuarem aumentando e as crianças em idade escolar estão tomando às ruas aos
milhões, o que temos aqui em Madri é uma traição a pessoas em todo o
mundo”, disse Mohamed Adow, diretor do Power Shift Africa, uma entidade de
clima e energia em Nairóbi. A maratona anual climática deveria ter terminado na
sexta-feira, 13, mas se arrastou, com ministros envolvidos em várias disputas
sobre a implementação do Acordo de Paris, que até agora não conseguiu deter a
marcha ascendente das emissões globais de carbono. Participantes de longa data
das negociações expressaram indignação com a falta de vontade dos principais
poluidores em mostrar ambição proporcional à gravidade da crise climática, após
um ano de incêndios, ciclones, secas e inundações.
A União Europeia, pequenos Estados insulares e
muitas outras nações pediram que a decisão de Madri sinalize que os mais de 190
países que participam do processo de Paris apresentarão promessas mais ousadas
para reduzir as emissões. O acordo entra em uma fase crucial de implementação
em 2020, quando os países devem aumentar suas metas antes da próxima grande rodada
de negociações, em Glasgow. Se grandes economias como China, Índia, Japão,
Brasil, Austrália e outras não concordarem, em breve, os cientistas dizem que
as esperanças já pequenas de evitar aumentos catastróficos de temperatura
desaparecerão.
Embora nenhuma economia avançada ainda esteja no
caminho certo para o tipo de ação que os cientistas dizem ser necessário para
direcionar o clima para um caminho mais seguro, todos os 28 Estados membros da
UE, exceto a Polônia, concordaram em Bruxelas na quinta-feira, 12, em atingir
emissão líquida zero até 2050.