Não há comprovação que curados da Covid-19 sejam imunes à doença
Pessoas que assumem que estão imunes a uma segunda infecção porque receberam um resultado positivo no teste podem ignorar os conselhos de saúde pública, segundo organização
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) afirmou na última sexta-feira (24) que ainda não há evidências
científicas suficientes para afirmar que pessoas que se recuperaram do novo
coronavírus estão imunes à doença. O comunicado se refere especialmente a
governantes que têm defendido a criação de um “passaporte da
imunidade” ou “certificado de risco zero” para que ex-pacientes
recuperados sejam excluídos de medidas de restrição de mobilidade durante a
pandemia da covid-19.
Essa medida já foi citada pelo ministro da
Economia Paulo Guedes como forma de retomar atividades não essenciais nos
locais que adotaram medidas de isolamento social.
“As pessoas que assumem que estão imunes a
uma segunda infecção porque receberam um resultado positivo no teste podem
ignorar os conselhos de saúde pública. O uso de tais certificados pode,
portanto, aumentar os riscos de transmissão continuada”, ressalta a
organização.
A agência lembra que o desenvolvimento da
imunidade contra uma doença através de uma infecção natural é um processo de
várias etapas, que geralmente ocorre de uma a duas semanas. Ela pondera,
contudo, que, até 24 de abril, nenhum estudo concluiu que a presença de
anticorpos confere imunidade ao novo coronavírus em humanos.
“A OMS continua revisando as evidências das
respostas de anticorpos à infecção por SARS-CoV-2 (vírus da covid-19). A
maioria desses estudos mostra que as pessoas que se recuperaram da infecção têm
anticorpos para o vírus”, diz o comunicado. “No entanto, algumas
dessas pessoas têm níveis muito baixos de anticorpos neutralizantes no sangue,
sugerindo que a imunidade celular também pode ser crítica para a
recuperação.”
“Testes de laboratório que detectam
anticorpos para SARS-CoV-2 em pessoas, incluindo testes rápidos de
imunodiagnóstico, precisam de validação adicional para determinar sua precisão
e confiabilidade”, pontua a OMS.
“Os testes imunodiagnósticos imprecisos
podem categorizar falsamente as pessoas de duas maneiras. A primeira é que eles
podem rotular falsamente as pessoas que foram infectadas como negativas e, a
segunda, é que as pessoas que não foram infectadas são falsamente rotuladas
como positivas. Ambos os erros têm sérias consequências e afetarão os esforços
de controle.”
A OMS ressalta, ainda, que os testes precisam
distinguir o SARS-CoV-2 dos outros seis coronavírus humanos conhecidos (dos
quais, quatro causam o resfriado comum e têm ampla circulação mundial, enquanto
os outros dois causam a Síndrome Respiratória no Oriente Médio e a Síndrome
Respiratória Aguda Grave). “Pessoas infectadas por qualquer um desses
vírus podem produzir anticorpos que reagem de maneira cruzada com anticorpos
produzidos em resposta à infecção por SARS-CoV-2.”
A organização também afirma apoiar as
iniciativas de diversos países de testagem de anticorpos do novo coronavírus na
população, por ajudar a entender a extensão da pandemia e os fatores de risco
associados à doença, mas faz uma ressalva: “Esses estudos fornecerão dados
sobre a porcentagem de pessoas com anticorpos da covid-19 detectáveis, mas a
maioria não foi projetada para determinar se essas pessoas são imunes a
infecções secundárias.”