OMS vai certificar versões genéricas de insulina para reduzir preço
A
fim de reduzir o preço de insulina em todo o mundo e aumentar o número de
pessoas em tratamento contra diabete, a Organização Mundial de Saúde (OMS)
lançou na última quarta-feira, 13, um programa piloto de avaliação de insulina
humana produzida por diversos fabricantes.
A ideia é fazer o que a OMS chama de
pré-qualificação – testar e aprovar novas versões genéricas da droga de modo a
encorajar as farmacêuticas a entrarem nesse mercado. Hoje, apenas três empresas
controlam a maior parte do mercado global. Aumentando a competição, a
expectativa é que os preços caiam.
A pré-qualificação também vai permitir que
agências da ONU e organizações médicas não-governamentais, como Médicos sem Fronteiras,
comprem as versões genéricas.
A medida, anunciada um dia antes do Dia Mundial
do Diabete (celebrado na quinta, 14), é parte de uma série de ações da
organização para lidar com o número crescente de casos da doença em todo o
mundo, principalmente nos países em desenvolvimento.
Segundo a OMS, estima-se que haja cerca de 420
milhões de pessoas com diabete em todo o mundo – o número quadruplicou desde
1980. Cerca de 20 milhões de pessoas sofrem com diabete tipo 1 e precisam de
injeções de insulina para sobreviver. Entre os pacientes com o tipo 2,
estima-se que cerca de 65 milhões precisam de insulina, mas apenas metade tem
condições de acessar a droga, em parte por causa dos altos preços.
A doença é a sétima principal causa de morte e
uma das principais causas de complicações de alto custo e debilitantes, como
ataques cardíacos, derrame, insuficiência renal, cegueira e amputações de
membros inferiores.
“O simples fato é que a prevalência de
diabete está crescendo, a quantidade de insulina disponível para tratar o
diabete é muito baixa, os preços são muito altos, por isso precisamos fazer
alguma coisa”, disse Emer Cooke, diretora de Regulamentação de
Medicamentos e outras Tecnologias de Saúde da OMS durante o lançamento da
iniciativa.
O secretário-geral da ONU, António Guterres,
destacou que são “catastróficos” os impactos dos custos da insulina.
“O diabete prejudica a saúde e mina as aspirações educacionais e de
emprego para muitos, afetando as comunidades e levando as famílias a dificuldades
econômicas”, disse Guterres, reforçando que isso ocorre particularmente em
países de baixa e média renda.
Dados coletados pela OMS entre 2016 e 2019 em 24
países de quatro continentes mostraram que a insulina humana estava disponível
apenas em 61% das unidades de saúde e versões análogas em 13%. De acordo com o
levantamento, o suprimento de um mês de insulina custaria para um trabalhador
em Acra, Gana, o equivalente a 5,5 dias de seu salário mensal – ou 22% de seus
ganhos.
Mesmo nos países ricos, revelou o estudo, há
pessoas que precisam racionar suas doses de insulina, comprometendo o
tratamento, o que pode ser fatal. A expectativa é que a pré-qualificação possa
aumentar a oferta, permitindo que a droga esteja disponível de modo constante
para esses pacientes.
Entre outras ações para melhorar o enfrentamento
ao diabete no mundo, a OMS tem planos para atualizar as diretrizes de
tratamento do diabete, elaborar estratégias de redução de preços para análogos
e melhorar os sistemas de entrega e o acesso ao diagnóstico. A organização
trabalha com países para também promover dietas saudáveis e atividade física
para reduzir o risco das pessoas de desenvolver o diabete tipo 2.
Experiência com HIV – O sistema de pré-qualificação já foi usado pela OMS no
passado para drogas usadas no tratamento da tuberculose, da malária e do HIV.
De acordo com a diretora da organização, isso foi o que possibilitou que 80%
dos pacientes com HIV hoje usem produtos genéricos.
“Quando os anti-retrovirais foram
produzidos, o custo por paciente por ano era de US$ 10.000”, afirmou Emer.
“Quando abrimos a pré-qualificação para produtos genéricos contra o HIV, o
preço caiu para US$ 300 por ano.”