Sem dados sobre leitos e testes no país, governo fala em flexibilizar isolamento
O presidente Jair Bolsonaro
pede o fim das quarentenas e o ministro da Saúde, Nelson Teich, afirma que a
pasta já estuda medidas para o relaxamento do distanciamento social. Mas o
governo federal não tem em mãos dados básicos para começar a desenhar a nova
estratégia de resposta à covid-19, como taxa de ocupação de leitos e de testes
de diagnóstico em cada Estado e no Distrito Federal.
No começo do mês, o ministério determinou que
gestores de estabelecimentos públicos e privados de saúde informassem o número
de leitos e ocupação, sob pena de cometer infração sanitária grave ou
gravíssima, que pode até levar à interdição do espaço. Segundo apurou a
reportagem, há Estados que ainda não enviaram informações. A ideia era já ter
divulgado os dados, mas o ministério não tem data para mostrar o Censo
Hospitalar, como é chamada a iniciativa.
A falta de dados já incomodava a equipe do
ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Ele chegou a dizer a colegas que iria pedir
à Polícia Federal para acompanhar o envio de informações para a base de dados,
ideia que não foi para frente. O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, disse em
sua primeira entrevista coletiva, na quarta-feira, que a informação sobre a
covid-19 é “crítica” e o País tem de ser mais “eficiente”.
“É uma corrida contra o tempo.”
Ele não apresentou sequer à equipe atual da
pasta detalhes sobre quais dados pretende levantar para dar subsídios a Estados
e municípios na elaboração de um plano de retomada das atividades, como quer
Bolsonaro. “É impossível um País viver um ano, um ano e meio parado. Um
programa de saída, isso é que a gente vai desenhar e dar suporte para Estados e
municípios”, disse Teich esta semana.
A transparência em dados sobre a covid-19 é
acompanhada pela Open Knowledge Brasil (OKBR). Segundo boletim de 16 de abril
da organização, 78% dos Estados ainda não divulgavam taxa de ocupação de
leitos. Entre os Estados que divulgaram, há avanço da covid-19.
No Amazonas, os leitos dedicados a tratamento
contra o vírus estão com ocupação superior a 90%, segundo a secretaria estadual
de saúde.
O Estado tem feito enterros em trincheiras
improvisadas. No Rio de Janeiro, Estado que “aguenta muito pouco”,
segundo o ex-ministro Mandetta disse ainda em março, a ocupação de UTIs beira
os 80%. Há duas semanas, a taxa era de cerca de 60%.
Atraso
Para enfrentar a covid-19, o governo prometeu
enviar 3 mil kits para instalação de leitos de UTI nos Estados. Em 15 de março,
o Estado revelou promessa de envio da primeira leva, de 540 unidades, que
serviria de “reserva técnica”.
Hoje, as unidades tornaram-se essenciais, mas
apenas 340 kits foram entregues. O governo tem dito que encontrou dificuldades
para compra de equipamentos – mil respiradores, por exemplo, foram bloqueados
pelo governo da Argentina.
Apenas 4 Estados publicam quantidade de testes
disponíveis, segundo informe de quinta-feira da OKBR. O ministro Teich aponta a
testagem como pilar de sua estratégia de combate à covid-19. O governo federal
também não tem divulgado o número de testes aplicados.