Carvalho analisa aspectos do Programa Mais Médicos
O presidente da Sociedade Médica de São Carlos, o médico neurologista Francisco Márcio de Carvalho destacou em entrevista alguns pontos favoráveis e outros polêmicos do Programa Mais Médicos lançado este mês pelo Governo Federal. Acompanhe a entrevista na íntegra.
1- O Programa MAIS MÉDICOS lançado pelo Governo Federal é avaliado de que maneira pela Sociedade Médica de São Carlos?
Há pontos favoráveis e questões polêmicas nesse programa. A elevação da remuneração médica é indiscutivelmente uma grande conquista para a classe entretanto não nos será favorável se os demais profissionais da área não receberem o mesmo reajuste salarial. Outro ponto favorável é a promessa de ampliação do número de vagas para a residência médica se não me engano de 17 mil que permitirá uma melhor qualificação e incremento na qualidade da assistência médica por parte de profissionais de todo o pais. Também será bem recebida a medida que visa a ampliação da rede de assistência hospitalar e também da rede básica de saúde como exemplo durante discurso do ministro da saúde São Carlos será contemplada com a implantação imediata do hospital escola. O que é difícil é o entendimento de que sendo essa uma medida provisória espera-se que haja urgência em sua implantação e não apenas discursos e apenas propagandas de um projeto para o futuro.
2- A ampliação do número de médicos do Sistema Único de Saúde, o SUS, é fundamental para que seja oferecido um tratamento mais digno e eficiente à população, principalmente nas periferias das grandes cidades, no interior do país e nas regiões Norte e Nordeste, onde mais faltam médicos?
Atendimento digno e eficiente depende também da melhoria das condições ambientais de trabalho; é difícil a situação de pro fissionais médicos que muitas vezes na linha de frente do atendimento SUS tem imensa limitação em seu trabalho por falta de infra estrutura e acesso a exames complementares de alto custo como ressonância magnética, por exemplo, que em algumas localidades demora mais que um ano para a realização deste exame complementar, hoje tão corriqueiro. Além disso, em regiões mais distantes e cidades menores o investimento para a implantação de serviços de alta complexidade deve ser maciço e a tabela do SUS precisa ser revista e atualizada para custeio destes procedimentos. A simples ampliação do número de profissionais médicos não é a única demanda de saúde em nosso País.
3- Como o Senhor vê a nova medida do Governo que vai obrigar os estudantes de medicina que começarem o curso em 2015 a trabalharem por dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS) como requisito necessário para ter o diploma?. A medida valerá para todas as escolas de medicina públicas e privadas do país, isso dará resultados?
Obrigatoriedade de tarefa me remete a recordar os Estados totalitários e autocráticos que são antagônicos à democracia, entretanto se houver a oferta de vagas em residência medica para todos os profissionais médicos aqui formados como vem sendo prometido essa obrigatoriedade torna-se desnecessária pois durante o programa de residência medica todos nós atendemos exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde, portanto posso concluir que faltou reflexão na elaboração desta medida
4- A classe médica está protestando em boa parte do País. Esse movimento é justo?
O protesto da classe médica centra-se principalmente na extinção do exame de revalidação de diplomas para médicos estrangeiros e na extensão da duração do curso de medicina assim como na obrigatoriedade de exercício profissional restrito após formação médica.
5- Sobre a importação de médicos estrangeiros é um equívoco do Governo tal medida e o que seria necessário para validar essa medida na sua opinião, já que é grande a defesa por parte do Governo para tal medida?
Muitos dos médicos que viriam seriam aqueles brasileiros que decidiram cursar medicina em outros países evitando prestar o tão concorrido vestibular nacional. A validação automática desses diplomas seria acima de tudo um desrespeito a tantas pessoas que um dia prestaram vestibular para medicina e que uma vez não aprovados optaram por cursar outra áreas como enfermagem, fisioterapia, biomedicina, psicologia, entre outros cursos. A importação desses médicos brasileiros que furaram a fila do vestibular desrespeita um critério de seleção nacional aos cursos de medicina existentes no país há várias décadas. Saliento que quanto ao médico estrangeiro que deseja residir no Brasil e aqui trabalhar deve-se preservar o exame de revalidação de seu diploma como acontece em quaisquer países do mundo.
6- A constituição de 1988 declarou que saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado. Essa meta ousada e pretensiosa vem sendo cumprida. Não está faltando dinheiro, investimento na área de saúde e também uma gestão profissional?
Tanto esse item não esta sendo cumprido que grande parte dos brasileiros hoje pagam plano de saúde complementar (convênios médicos) se este é um direito constitucional os planos de saúde complementar seriam desnecessários em nosso País. Quem se arrisca a não ter um plano de saúde hoje em dia?
7- Gostaria de suas considerações finais sobre esse quadro atual da saúde no País?
Para que o Brasil tenha boa qualidade em saúde é necessário que o governo promova adequados desenvolvimentos econômico e social de todas as regiões do país, A simplória medida de levar médicos as regiões mais carentes não soluciona a questão. Se Uruguai e Argentina tem mais médicos per capita que o Brasil isto significa que estes países estejam mais desenvolvidos economicamente e socialmente que o nosso Brasil. Isto demonstra claramente a fraqueza da administração do Governo Federal.
